sábado, 26 de julho de 2014

Livro "Meus desacontecimentos"



Brasilia, 26 de julho de 2014.

Amigos Waldemir e Rogério.
Texto delicioso, de escritora gaúcha de Ijuí.  Abraços.
Antonio A. Veloso.

TEXTO  -  “Meus  desacontecimentos: a história da minha vida com as palavras”, de Eliane Brum,  Editora Leya, 2014,  143 páginas.

O texto é delicado,  envolvido  com emoções e lirismo.   Traz um subtítulo expressivo: a história da minha vida com as palavras.   A autora,  gaúcha de Ijuí, 48 anos (nasceu em 1966), é escritora, jornalista e documentarista, repórter premiada muitas vezes, no Brasil  e no exterior.  Trabalhou durante onze anos no jornal Zero Hora, de Porto Alegre,  e cerca de dez anos na revista Època,  em São Paulo.   Em seu relato da primeira infância (“Meus desacontecimentos”),  a escritora vai fundo nas indagações:  “De quantos nascimentos e mortes se constitui uma vida? De quantos partos uma pessoa precisa para nascer? Com quantas palavras se faz um corpo?”   No seu caso particular,  Eliane,  apaixonada pelas palavras, faz uma descrição em que o ponto de partida são “os recortes de memória mais distantes de uma criança perseguida pelo trauma da morte da irmã recém-nascida”.   Faz um relato apaixonado do rumo que tomou a sua vida  -  uma história”   profundamente feminina” ,  movida pela poesia e o lirismo.  Mostra todo o seu envolvimento com a família:  a figura marcante do pai, idealista e sonhador;   a presença atormentada da mãe;  as tias  (que viravam flores para não murchar),  os avós,  o mundo em sua volta. Garota curiosa, assinala:  “Eu era rodeada por mulheres bondosas demais,  e tristes, muito tristes.  No mundo em que nasci, ser mulher era suportar a vida. O fardo, a cruz, dia após dia.  Essas eram as santas,  as putas não me eram apresentadas.  Eu não queria  ser uma santa, muito menos uma Cristina.  Minha tia Cristina levava a sério demais o fato de seu nome ser o feminino de Cristo”.  Fala amorosamente da tia Ivone, “que cuidava do jardim como quem procura colocar ordem em sua vida triste e trágica.”  Fala dramáticamente de  ter de dizer aos pais, de viva voz, que estava esperando um filho aos quinze anos.  Descreve com orgulho a figura do pai,  rotulado de comunista naqueles anos de exceção (“Meu pai até então era para mim um herói  invencível”).   Jornalista de vocação, interessada nas causas sociais,  registra a sua postura determinada:  “Desde pequena,  eu tenho muita raiva e quase nenhuma resignação.   A reportagem  me deu a chance  de causar incêndios sem fogo e espernear contra as injustiças do  mundo sem ir para a cadeia”.