domingo, 12 de maio de 2013

Casagrande e seus demônios


Brasilia, 11  de maio de 2013.


Caros amigos Waldemir e Rogério,
O título do livro é extremamente fiel à realidade dos fatos descritos (“Casagrande e seus demônios”, de Walter Casagrande Júnior e Gilvan Ribeiro, Editora Globolivros, 2013, 242 páginas).  Trata-se de uma biografia contundente, realista, que vai fundo nas coisas vividas até agora pelo renomado jogador de futebol Casagrande.  O depoimento é um misto de coragem e honestidade, pondo a nu toda a agressividade de situações dramáticas da experiência pessoal do jogador, viciado em drogas “na adolescência, na juventude e, depois que aposentou as chuteiras, ficou tão dependente que acabou sendo internado à força numa clínica de reabilitação”.  A linguagem é direta e reveladora: “As portas do inferno estavam abertas. Os demônios invadiam a casa sem qualquer cerimônia, andavam pelos cômodos, apareciam nas paredes, sentavam-se no sofá, como se a presença deles ali fosse algo natural.  Eram feios, horrendos mesmo”.   O relato é corajoso e dramático:  “Eu tinha visões horríveis, tudo parecia real ...   via demônios pelo apartamento inteiro. Eram maiores  do que eu, com dois ou três metros de altura ...  Isso durou um mês, sei lá, um mês e meio,” conta o ídolo.  Casagrande  explica que entrou em surto psicótico pelo uso exagerado de drogas e privação de sono.  Quando não agüentou mais,  recorreu aos pais, Dona Zilda e seu Walter, e pediu ajuda, incluindo a presença do padre Arlindo.  Isso foi só o início da história e era preciso expulsar os demônios.  O texto, em co-autoria com o jornalista e seu amigo Gilvan Ribeiro, tem prefácio do também amigo e escritor Marcelo Rubens Paiva, e apresentação de Antonio Prata.  Conta, além disso, com um depoimento final do próprio Casagrande (“Casão por ele mesmo”),  em que ele revela: “Não me orgulho de tudo o que fiz, mas não me arrependo de quase nada. E admito: a sensação predominante é de paz comigo mesmo”. Nascido em 15 de abril de 1963, no bairro da Penha, em São Paulo, revelado no Corinthians, foi ídolo no futebol, e hoje  -  “sem esconder  os seus demônios -  e nem conseguir se livrar deles -,  tornou-se um dos mais respeitados comentaristas esportivos da televisão”.  È marcante a  descrição das overdoses.  Uma delas, acontecida na presença do filho do meio, Leonardo, assinalou a sua separação conjugal (21 anos de casado com Mônica). Casagrande, impetuoso e insaciável, passou a aplicar heroína nas veias e a associá-la com cocaína, numa combinação devastadora.  Com o filho Leonardo em casa, trancou-s e no banheiro para se drogar  e, na pressa, abusou da quantidade injetada e experimentou uma explosão no peito:  “Explodiu mesmo:  bummmm ... e eu voei. Saí cerca de um metro do solo, bati contra a parede e caí no chão”.  Havia entrado em convulsão.  Atualmente, Casagrande mora sozinho, vive envolvido com a sua profissão nas transmissões da TV Globo, realiza palestras  sobre a sua experiência de vida. Mantém acompanhamento de uma psiquiatra, com sessões uma vez por semana, e três psicólogas que lhe dão suporte no dia a dia.  Com condição econômica privilegiada, leva vida de classe média alta, mora sozinho em apartamento confortável, apóia financeiramente os três filhos e os pais, paga pensão à ex-mulher e toma refeições fora.

O abraço afetuoso do Antonio A. Veloso