Brasilia, 6 de abril de 2012.
“Nêmesis” é o título do elegante e pungente
texto que acabei de ler do impecável Philip Roth, um dos mais brilhantes
escritores americanos (Cia. das Letras 2010/2011, 194 páginas). O autor,
Philip Roth, hoje com 78 anos e mais de vinte romances publicados, é
escritor renomado, com vários e importantes prêmios, sendo o único escritor
vivo a ter sua obra publicada em edição completa pela Library of America.
A narrativa de “Nêmesis” é cativante e dolorosa. No ambiente do
final da Segunda Guerra Mundial, na comunidade de Nova Jersey, “ao calor
asfixiante de Newark”, descreve, com aflição e sofrimento, a
terrível epidemia de poliomelite no verão de 1944, envolvendo jovens e adultos.
È todo o clima da crescente angústia da comunidade chamada Weequahic, em que os
pais são alertados pelo Conselho de Saúde para “observarem de perto seus
filhos e contatarem um médico se qualquer criança apresentasse sintomas tais
como dor de cabeça, garganta inflamada, enjôo, pescoço enrijecido, dor nas
articulações ou febre.” A personagem central de
“Nêmesis” é um jovem de 23 anos, professor de educação física,
Eugene, chamado pelo avô de Bucky Cantor -- atleta
dedicado, forte e vigoroso, fiscal do pátio de recreio e responsável pelo grupo
de rapazes e moças que ali freqüentavam. Bucky era dedicado e nutria uma
intensa devoção pelos meninos do pátio: era míope, usava óculos grossos e
não tivera acesso ao recrutamento para a guerra, diferentemente de seus dois maiores
amigos que haviam sido convocados para combate na Europa. No pátio, a
prova de fogo de Bucky foi quando, numa tarde, diversos rapazes italianos
do ginásio East Side, entre quinze e dezoito anos, estacionaram nos
fundos do pátio e anunciaram: “estamos espachando pólio”.
Bucky enfrentou-os com coragem e decisão: “após o incidente com os
italianos ele se tornou um verdadeiro herói, idolatrado como um irmão mais
velho e protetor, sobretudo para aqueles cujos próprios irmãos lutavam na
guerra”. É cativante e emblemática toda a atuação de Bucky na
evolução dramática dos acontecimentos: “à medida que a poliomelite começa
a devastar o grupo de crianças que freqüenta o pátio, não resta a Cantor senão
absorver a realidade chocante que o cerca, com toda a sua carga de terror,
raiva, pânico, sofrimento e dor.” A narrativa cresce de impacto e
ganha contornos novos e mais emocionantes na ida de Bucky Cantor para assumir
cargo de instrutor na colônia de férias para crianças onde trabalhava sua
noiva, Márcia, em compahia das duas irmãs gêmeas, no alto das montanhas Pocono
(com ar fresco “purificado de todos os germes nocivos”).
“Nêmesis é texto sólido e perturbante, mostra em Bucky um jovem
decente, correto, com boas intenções e firme engajamento. È doce e
tocante o seu amor por Márcia e o relacionamento com as irmãs gêmeas; são
dramáticas as escolhas a serem feitas, diante das penosas e duras
circunstâncias.
Abraços.