È sempre um prazer renovado poder retomar o contato com a escritora Paula Fox, hoje com 89 anos, que considero uma das mais brilhantes do cenário americano. Acabei de ler o quarto livro dela publicado no Brasil: “Os filhos da viúva”, escrito em 1976 e disponível pela Cia. das Letras, 1976-1986/2011, 233 páginas. Li, anteriormente: “Pobre George” (1967), “Desesperados” (1970) e “A Costa Oeste” (1972). “Desesperados” é, sem dúvida, o melhor de todos. Paula Fox já escreveu mais de vinte livros “infanto-juvenis”, muitos deles premiados, e seis “para adultos”. “Os filhos da viúva” é um texto complexo, de intensos e instigantes diálogos, envolvendo uma estranha família hispano-americana. Laura Maldonado, autoritária e voluntariosa, e seu “frouxo marido”, Desmond Clapper, na véspera da partida de navio para a África, convidam um pequeno grupo para a despedida - inicialmente para drinques num hotel de luxo de Manhattan e em seguida para jantar em refinado restaurante de Nova York. Os convidados são: Clara, filha do primeiro casamento de Laura, insegura, tímida e submissa; Carlos, um dos dois irmãos de Laura, assumidamente homossexual; e Peter Rice, editor de livros, amigo da família, discreto admirador de Laura. A mãe de Laura, Alma,doente, vivia num abrigo para idosos há cerca de dois anos e, justamente na tarde dos eventos de despedida, havia falecido - fato apenas conhecido por Laura, mas não revelado a mais ninguém. O livro tem apenas sete capítulos, de tamanhos desiguais, sendo o primeiro o mais longo (80 páginas), sob o título “Bebidas”, relatando o demorado e conturbado encontro com drinques no hotel, em que se inicia intenso e forte diálogo do grupo, refletindo mágoas, desencontros e asperezas das diferentes personalidades. A linguagem é frequentemente áspera e amarga: “Os filhos homens da minha mãe são uns incapazes - sovinas demais até para casar. Imagine só, tornar-se um homossexual para não ter que sustentar uma mulher”. Os conflitos perduram durante o jantar e culminam com a cena inesperada de retirada de Laura, que sai pela noite chuvosa de Nova York, sem guarda-chuva ou casaco. A narrativa ganha força e novos contornos: o amigo e discreto Peter é incumbido de, ainda na madrugada, notificar pessoalmente os dois irmãos sobre a morte de Alma, a viúva do título do livro, com a restrição categórica de que Clara não poderia receber a notícia, “pois não se interessaria por ela”, segundo a mãe Laura. Trata-se, em síntese, e uma espécie de tragédia grega moderna, numa linguagem seca, dura, direta, enxuta e impiedosa ...
Abraços.
Antonio A. Veloso.