quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Livros ("O grande Gatsby")

Brasilia, 25 de janeiro de 2012.



Gostaria de registrar o meu quase deslumbramento com a leitura,  embora só agora tardiamente feita por mim, do famoso romance do F. Scott Fitzgerald: “O grande Gatsby”, Penguim/Cia. das Letras, 1926/2011, 249 páginas.  A apresentação, por sinal excelente, é de autoria do crítico literário inglês Paul Antony Tanner (1935-1998), que assinala, logo de início, a insistência do autor em manter para título do livro a denominação Trimalchio em West Egg, lembrando que “ Trimalchio é o novo-rico vulgar e de imensa fortuna de Satyricon, de Petrônio, um mestre das alegrias gastronômicas e sexuais que oferece um banquete de luxo inimaginável, do qual indiscutivelmente participa  -  ao contrário de Gatsby, que é um espectador sóbrio e isolado das próprias festas.” O romance, escrito durante a permanência de Fitzgerald em Paris, simultaneamente com a mudança de Hemingway e Gertrude Stein (“a geração perdida” da literatura americana), é um primor de texto, finamente elaborado, sofisticado e glamoroso.  Retrata com fidelidade o espírito dos anos 20, a extravagante Era do Jazz, com a sensação do frustrante sonho americano.  As principais personagens do relato são marcantes:  o narrador, o velho-pobre Nick Carraway, morador de West Egg, no estreito de Long Island,  vizinho da mansão de Gatsby;  o enigmático e carismático Jay Gatsby, o novo-rico autor das festas bombásticas, assistente privilegiado e personagem solitária, apaixonado por Daisy, esposa de Tom;  a Srta. Jordan Baker, jogadora de golfe, companheira de Nick, amiga de Daisy;  o casal Tom Buchanan e Daisy, endinheirados e descuidados, ele um brutamontes mal educado e violento.  No texto, pareceu-me patética e emblemática a figura de Gatsby e de particular relevância a força da presença do narrador Nick.   A narrativa é fortemente envolvente.  Destaque-se, ao final, o trecho do encontro de Nick e Tom Buchanan, caminhando na Quinta Avenida, em Nova York, em que o narrador diz sobre o Tom:  “Eu nunca seria capaz de perdoá-lo ou de gostar dele, mas vi que seus atos eram, a seus olhos, inteiramente justificáveis. Tudo decorrera de forma descuidada e confusa.  Eles eram todos descuidados e confusos.  Eram descuidados, Tom e Daisy  -  esmagavam coisas e criaturas e depois se protegiam CPOR trás da riqueza ou de sua vasta falta de consideração, ou o que quer que os mantivesse juntos, e deixavam os outros limparem a bagunça que eles haviam feito...  Apertei a mão do Tom; me pareceu tolo não fazê-lo, pois tive a súbita impressão de que estava lidando com uma criança.”  Trata-se, a meu ver, de excelente texto, que recomendo a todos.  Nas palavras do crítico britânico Tony Tanner: “Na minha opinião, O grande Gatsby é a obra de ficção mais perfeitamente construída da literatura americana”.  Abraço caloroso para todos.

Antonio A. Veloso.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Livros ("A assombrosa viagem de Pompônio Flato")

Brasilia, 15 de janeiro de 2012.





Por indicação do nosso Araken, de São Paulo-SP, que foi Diretor do Banco Central e que é nosso amigo, acabei de ler o gostosíssimo e curioso “A assombrosa viagem de Pompônio Flato”, de Eduardo Mendoza (Editora Planeta, 2008/2010, 207 páginas).  O autor, nascido em Barcelona em 1943,  é renomado e publicou vários romances, muitos deles premiados, inclusive o ótimo “A cidade dos prodígios”, de 1986, homenagem especial a Barcelona, sede tradicional de Convenções Internacionais.  O texto de “A assombrosa viagem de Pompônio Flato” é um requinte de criatividade e ironia:  a história se passa no século I da nossa era, no ambiente de Nazaré, alcançando a vida de São José e Maria e a infância de Jesus.  Pompônio Flato é um cidadão romano, tribuno, de grande curiosidade pelo conhecimento e as aventuras: “Que os Deuses o poupem, Fàbio, desta praga, pois de todas as maneiras de purificar o corpo que o destino nos envia, a diarréia é a mais pertinaz e diligente.”  Na sua intensa lida de “busca do saber e da certeza”, ele vinha sofrendo com freqüência de diarréia:  “Pois acontece que tendo chegado às minhas mãos um papiro supostamente encontrado em um túmulo etrusco”, tive “notícia de um arroio cujas águas proporcionam sabedoria a quem as bebe”.  Desse modo, Pompônio Flato viaja pelos confins do Império Romano em busca dessas águas de efeitos miraculosos e toma conhecimento de que, ao sul da Silícia, existe um lugar onde uma estranha corrente de água escura e profunda, ao ser bebida pelo gado, torna as vacas brancas e as ovelhas negras.  Nesse seu périplo, Pompônio acaba chegando à cidade de Nazaré, onde está para ser crucificado um carpinteiro de nome José, condenado pelo brutal assassinato do rico cidadão Epulão.  Contratado pelo filho do carpinteiro, o menino Jesus,  Pompônio Flato termina por se envolver, a contragosto, na tentativa de solução do mistério e na identificação do verdadeiro assassino.  O estilo do autor é original e irônico, na verdade irreverente e malicioso:  explica, antes de tudo, que a execução do criminoso não poderia, para estabelecer o exemplo, ser
por decapitação, “que é um método decente, rápido e discreto, sendo preferível a crucifixão. O problema  estriba em que a cidade não dispõe de nenhuma cruz, e por isso tivemos que encomendá-la a um carpinteiro, e dá-se a incômoda circunstância de que o carpinteiro é justamente o réu que temos de executar”.  Fala com delicadeza da cortesã Zara a Samaritana e tece elogios às suas “virtudes”: “Zara a Samaritana mandou as crianças irem dar forragem ao cordeiro e, mal haviam saído, fechou a porta  a chave, conduziu-me ao leito e num instante, com grande perícia, aliviou o meu desassossego e consolou meus tormentos”.  Coloca na boca de Jesus-criança a seguinte avaliação: “Andei pensando e decidi que quando for grande vou casar com Lalita (a filha de Zara). Sei que a mãe dela é uma pecadora , mas como agora sou filho de um criminoso, não acho que haja impedimento. Também pensei em mudar de nome e me chamar Tomás. O que você acha, raboni?”  O enredo do livro vai crescendo numa “trama detetivesca original e irônica, que desemboca em uma sátira literária e em uma criação de inesgotável vitalidade.”   Vale a pena deliciar-se.
O abração do
Antonio A. Veloso.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Livros lidos em 2011.

Brasília, 5 de janeiro de 2012.

Amigos queridos,

Repasso-lhes, a seguir, a relação dos livros  lidos no recém encerrado ano de 2011:

l)        “O Planeta do Sr. Sammler”, de Saul Bellow, Editora Artenova, 1969/1975, 209 páginas;
2)        “Despedida em Veneza”,  Louis Begley, Cia. das Letras, 1998/2000,  222 páginas;
3)         “Passageiro do fim do dia”,  Rubens Figueiredo, Cia. das Letras, 2010, 197 páginas;
4)          “Caçando Eichmann”,  Neal Bascomb, Editora Objetiva, 2009/2010, 383 páginas;
5)          “Bravura Indômita”,  Charles Portis,  Alfaguara, 1968/2011, 187 páginas;
6)          “Mauá”,  Jorge Caldeira, Cia. das Letras, 1995,  557 páginas;
7)          “Ligeiramente fora de foco”,  Robert Capa, Editora CosacNaif,  1947/2010, 296 páginas;
8)        “Churchill”,  Paul Johnson, Editora Nova Fronteira, 2009/2010,  159 páginas;
9)          “Percorrendo Memórias”,  Aloysio Campos da Paz Junior, gráfica Rede Sarah, 2010,  l90 páginas;
10)     “Meu tipo de garota”,  Buddhadeva Bose, Cia. das Letras, 1951-2009/2011, 146 páginas;
11)      “A República dos Bugres”,  Ruy Tapioca, Editora Rocco, 1999/2000,  530 páginas (Abace, Clube do Livro);
12)   “Ressurreição”,  Liev Tolstoi, Editora CosacNaif,1964/2010,  431 páginas;
13)      “Desesperados”,  Paula Fox,  Cia. das Letras, 1970/2007, 186 páginas (Abace, Clube do Livro);  



14)     “A Restauração das Horas “ ,  Paul Harding, Editora Nova Fronteira, 2009/2010,  150 páginas;      


15)   “Cristãos que se beijam e o Crepúsculo dos Deuses”, João Paulo dos Reis Velloso, Editora Civilização Brasileira, 2011, 430 páginas;
16)  “Saga Brasileira – a longa luta de um povo por sua moeda”, Miriam Leitão, Editora Record, 2011, 475 páginas;
17)   “Imortal”,  Traci L. Slatton, Editora Bertrand Brasil, 2008/20ll, 532 páginas (Abace, Clube do Livro);

18)“Um dia”,  David Nicholls, Editora Intrínseca, 2009/2011,  411 páginas;
19)   “O retrato de Dorian Gray”,  Oscar Wilde, Editora Nova Cultural, 2002/2003, 238 páginas (Abace, Clube do Livro);
20)   “Através do espelho”,   Jostein Gaarder, Cia. das Letras, 1995 -1998/2010,  141 páginas (Abace, Clube do Livro);
     21)     “Deus está cansado” ,  Everardo Moreira Veras, Edições Sarev, Recife-PE, 2011, 143 páginas;
22)   “Liberdade”,  Jonathan Franzen, Editora Cia. das Letras, 2010/2011, 605 páginas;
23)   “A última façanha do major Pettigrew”,  Helen Solomon, Editora Rocco, 2010/2011,  431 páginas;
24)   “Uma providência especial”,  Richard Yates, Editora Alfaguara, 1965, 1969/2010, 30l páginas;
25)   “Um homem perfeito” ,  Naeem Murr,  Editora Benvirá, 2007/2010, 478 páginas.

Abraço afetuoso.

Antonio A. Veloso.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Livros ("O desfile de Páscoa")

Brasilia, 4 de janeiro de 2012.




Estou iniciando o ano de 2012 com um texto de alta qualidade, fruto da descoberta pessoal de um escritor americano requintado, Richard Yates.  Romance admirável, emocionante, a despeito da “dureza” da história: “O desfile de Páscoa”, de Richard Yates, Editora Alfaguara, 1976/2010,  22l páginas. Autor falecido em 1992, é hoje reconhecido como um dos maiores escritores americanos do século XX e que vem sendo redescoberto pelos leitores e pela crítica: publicou sete romances e duas coletâneas de contos, sendo três já publicados no Brasil: “Foi apenas um sonho (Rua da Revolução)”, 1961-1989/2009, filmado e adaptado sob a direção de Sam Mendes, com Leonardo Di Caprio e Kate Winslet;   “Desfile de Páscoa” ,  1976/2010; e “Uma providência especial”, 1965-1969/2011.  O texto de “O desfile de Páscoa” é vibrante, delicado, envolvente, melancólico: é a história de Sarah e Emily, duas irmãs muito ligadas e diferentes.  “Nenhuma das duas irmãs Grimes teria uma vida feliz e, olhando em retrospecto, sempre  pareceu que o problema começou com o divórcio dos pais. Isso aconteceu em 1930, quando Sarah estava com nove anos e Emily, cinco.”  A irmã mais nova, Emily, quer ser como a mais velha, Sarah, “bonita e extrovertida, e tem ciúmes da relação da irmã com o pai”.  Sarah se casa logo cedo com um jovem arrojado, que parece o marido ideal.  Emily segue uma vida mais solta e prefere a vida mais independente, interessada no sucesso profissional.  Os seus relacionamentos são mais instáveis e acidentados, nunca a satisfazem inteiramente.  No fundo de tudo, a vida de ambas esconde grandes conflitos de família e de relacionamentos, descrevendo trajetórias tumultuadas e tempestuosas.  Para o leitor, é um grande e vibrante envolvimento, às vezes dolorido e melancólico.  Como assinalou o escritor Kurt Vonnegut: “Poucos homens, desde Flaubert, mostraram tanta simpatia por mulheres cujas vidas são um inferno”. Em síntese,   trata-se de “um livro corajoso, brilhante” (Sunday Herald).
Abraços.
Antonio A. Veloso.