sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Livros ("O homem perfeito")

Brasilia, 30 de dezembro de 2011.




Acabei de ler:  “O homem perfeito”, de Naeem Murr, Editora Benvirá, 2007/20l0, 478 páginas.  O autor, nascido e criado em Londres, reside nos Estados Unidos desde os vinte anos e atualmente mora em Chicago. “O homem perfeito”, candidato ao prêmio Man Booker, é uma história forte, densa e arrebatadora, movimentando um conjunto vasto de personagens intrigantes e, às vezes, perturbadores. A narrativa é plena de emoções humanas, frequentemente envolvida em diálogos desconcertantes e de difícil assimilação, tal o  número de interlocutores e diante da variada natureza dos conflitos em jogo.  Onúcleo da história diz respeito a um grupo de cinco amigos  -  Raj, Annie,  Lew, Nora, Alvin  - , que cresceram numa cidadezinha do Missouri, na década de 1950:  o jovem e inteligente indiano, Rajiv Travers, vendido pela mãe indiana ao pai inglês por vinte libras, é rejeitado pelos parentes e entregue, sob relutância, na residência de Ruth, mulher do tio de Raj, na cidade de Pisgah, no Missouri.  Raj, com muita sensibilidade, inteligência  e senso de humor, ràpidamente se integra ao grupo e aprende a conviver com todos, enfrentando com coragem os conflitos, paixões e segredos perturbadores dos moradores de Pisgah.  São muitos os mistérios e revelações, numa prosa dinâmica e viva, com personagens estranhos, desconcertantes e conflituosos.   Exemplo:  o grotesco Clyde, procurando esposa e que se aproxima das mulheres da cidade, sem nada falar e fazendo avaliações. “Não tenho idéia do que ele estava procurando, mas pareceu reduzir sua escolha a meia dúzia e passou à segunda etapa, que foi aparecer na casa delas sem convite em uma tarde de domingo, com um presentinho bizarro, como pé de porco em conserva ou um ramo com todo tipo de flor que ele conseguira colher, a maior parte ervas comuns.” E havia também o grupo dos homens adultos, que se reunia de tempos em tempos na barbearia de Goldwin  -  grupo de falastrões e bêbados, grosseiros e sem controle.  O texto de Naeem Murr, como diz o The Times, de Londres, “recria com sucesso um universo inteiro em que encontramos todo o espectro de emoções humanas em uma cidadezinha do Missouri, tal como fez Faulkner com o imaginário condado de Yoknapatawpha  no Mississipi”.  Divirtam-se.

Abraço do
Antonio A. Veloso.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Livros ("Uma providência especial")

Brasilia, l4 de dezembro de 2011. 




Repasso-lhes resenha de excelente texto que estou acabando de ler:  “Uma providência especial”, de Richard Yates, Editora Alfaguara, 1965, 1969/2011, 301 páginas.   O autor, de Yonkers, estado de Nova York, 1926, é considerado “um dos maiores romancistas americanos do século XX”,segundo o Daily Telegraph.  Publicou sete romances e duas coletâneas de contos, sendo o mais famoso o “Foi apenas um sonho (Rua da Revolução)”,  Alfaguara-2008, indicado para o National Book Award em 1961 e adaptado para o cinema, sob a direção de Sam Mendes e estrelado por Leonardo Di Caprio e Kate Winslet.  Faleceu em 1992.  Para mim, que adorei o “Foi apenas um sonho”,  estou também encantado com o “Uma providencia especial”, que me pasreceu um relato primoroso e intrigante,  atraindo pela força e conteúdo, a despeito do contexto e ambiente de guerra e da vida tumultuada dos subúrbios americanos.  A “história é protagonizada por dois personagens – Robert Prentice, jovem soldado que adora arranjar problemas com seus companheiros, e sua mãe, Alice,  artista plástica que só amarga fracassos na carreira.”   Robert Prentice,  o Bobby, l8 anos, é enviado à Europa em 1944 para combater na Segunda Guerra Mundial. Jovem em formação, subjugado pela mãe, em busca de afirmação e independência,  tem sonhos de grandeza ,  mas vive fora de foco e frequentemente se embaraçando,  mostrando-se soldado inexperiente e fonte de complicaçõesç para os parceiros ou superiores.  Vive os´últimos dias da ofensiva americana e pouco participa dos confrontos.  Mesmo assim, carrega alguns infortúnios:  experimenta sentimento de culpa em relação ao seu parceiro John Quint, vitimado pela detonação repentina de uma mina, junto com dois outros companheiros, enquanto Bobby se encontrava recolhido no hospital, com pneumonia;  participa,  quando a guerra já havia terminado, de inusitado episódio de “acerto das diferenças” com o companheiro Walker, quinze quilos mais pesado, numa luta desigual e humilhante   no “pequeno campo atrás do celeiro”.  Paralelamente aos acontecimentos da guerra e às agruras do Bobby,  é mostrada a vida atribulada de Alice,  sua mãe, mulher divorciada e independente, escultora e que sonha ser artista de sucesso, mas que vive um mundo de conflitos e frustrações:  o precário relacionamento com Harvey Spangler, “o médico que trouxera Bobby ao mundo”;  a estranha aventura  com o maravilhoso e distinto empresário inglês Sterling Nelson, “alto, digno, aristocrático, com têmporas encanecidas e um pequeno bigode ficando grisalho”,  que se envolve amplamente com Alice e Bobby e que, de repente, desaparece da vida deles, retornando para Londres sem qualquer noticia;  a frustrada experiência de Riverside, que obriga Alice a praticamente fugir, sob risco de ser presa;  a chocante e arrasadora temporada em Austin, no Texas, na residência da irmã Eva, casada com o grandalhão Owen Forbes (“ele é um grosso, estúpido e detestável.” ... “Seu marido é um animal, está ouvindo. Ele é um animal.”).   Resumindo:”Yates compõe um romance emocionante sobre os dilemas de uma família americana em pedaços”.   
Abraços.

Antonio A. Veloso.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Livros ("A última façanha do major Pettigrew")

Brasilia, 3 de dezembro de 2011.




Acabei de ler livro delicioso: “A última façanha do major Pettigrew”, da inglesa Helen Simonson (Editora Rocco, 2010/2011, 43l páginas). Trata-se de ótima indicação que me foi feita pelo nosso amigo comum Araken, de São Paulo, por sinal um leitor assíduo, atento, atualizado  e vitorioso.  É o primeiro romance de Helen Simonson, que nasceu na Inglaterra e mora nos Estados Unidos há cerca de vinte anos, em Washington, acompanhada do marido e dos dois filhos. O texto é gentil, amoroso, repleto de tiradas espirituosas, no estilo do humor tipicamente inglês: “O major  Ernest Pettigrew preza tudo aquilo que o homem inglês deve possuir para viver dignamente: honra, dever, decoro e uma xícara de chá na temperatura certa”. O que não falta durante todo o relato é chícara de chá, brindando tudo e se envolvendo diretamente com a delicada narrativa:o major Pettigrew é viúvo de dois anos, com 68 anos de idade, oficial aposentado, vivendo em Edgecombe, uma pequena e mexeriqueira cidade do interior da Inglaterra, “cercada por colinas e povoada por vizinhos fofoqueiros e apegados às convenções”.  Espirituoso e inteligente, formal e carismático, o major é relativamente feliz com a sua vida simples e tranquila, com as “idas semanais ao clube de golfe, telefonemas esparsos do filho ocupadíssimo e com a leitura dos poetas clássicos, acompanhada de um tradicional chá inglês”.  Descobre-se repentinamente sozinho, com a morte do irrmão Bertie, e se aproxima sutilmente de uma paquistanesa de nome Ali, com 58 anos, dona do mercadinho local, também viúva e leitora dos clássicos, silenciosa, gentil e generosa.  A narrativa é um encantamento e cheia de sutilezas: as intrigas das famílias e dos vizinhos; a história curiosa das duas famosas espingardas Churchill herdadas do pai e divididas em herança, uma para o major e a outra para o irmão Bertie; a estrondosa e tumultuada festa de fim de ano no clube; o difícil encaminhamento do relacionamento do major com Ali, um casal diferente, atípico.  De vez em quando, as “tiradas” inglesas: “mas hoje em dia os homens esperam que a esposa seja tão deslumbrante quanto a amante. – È um absurdo, disse o major. Como é que eles vão distinguir uma da outra?”   De qualquer modo,  o amor vai se encaminhando e assumindo a sua posição de chama forte, definitiva, destruindo as barreiras, vencendo a precariedade da sociedade moderna, os preconceitos culturais, de cor e de raça.  Sempre com o toque inglês e com o mistério do Paquistão.  Votos de boa leitura.  Abraços,

ANTONIO A. VELOSO.