Brasilia, 2 de agosto de 2011.
Já de volta a Brasília, em seguida à temporada de 20 dias no Ceará, estou concluindo a leitura do elaborado texto da Miriam Leitão: “Saga Brasileira – a longa luta de um povo por sua moeda”, Editora Record, 2011, 475 páginas. Trata-se de uma contribuição valiosa para sustentar a memória de uma história forte, vivida pelo país,sobre o tormento da hiperinflação. È uma história bem contada, em fluente estilo jornalístico, amparada com amplas reportagens e importantes depoimentos, resultado de um incomensusável esforço pessoal e de equipe, ao longo de muitos e muitos anos: “Foi tão longa a construção do livro que ele passou a ser quase um outro membro da minha vasta família”, diz a autora. “Usei para escrever este livro informações que a memória reteve das mais de três décadas de jornalismo econômico, vários livros e textos que estudei com este objetivo, as entrevistas formais e informais com autoridades, visitas a empresas e as conversas com pessoas que sofreram o impacto das crises.” O texto cobre, com amplitude e minúcias, desde os l5 anos anteriores ao Plano Real até os nossos dias, dissecando toda a angústia e os tormentos do que representou o combate à inflação no caso brasileiro: “l3,3 trilhões por cento foi a inflação acumulada nos l5 anos que antecederam o Plano Real. O país teve cinco moedas entre l986 e 1994. Para os brasileiros, isso significou instabilidade de preços, indexações, congelamentos, tabelamentos, confisco de poupança, privações, insegurança”. O relato é competente e prazeroso, desvendando mistérios, revelando curiosidades, mostrando autorias e a intimidade das coisas. A descrição do Plano Cruzado e seus desdobramentos é feita de forma direta e ilustrativa, revelando a melancolia de um governo desarticulado e sem força, desmanchando-se no ar. “Tudo foi piorando nos meses finais do governo Sarney após o fracasso do Plano Verão. Sarney havia ampliado os gastos para conseguir no Congresso mais um ano de mandato.Depois do fracasso do plano, desinteressou-se pelo governo. O país ficou à deriva. Sarney passava mais tempo em Curupu, a ilha da família, que no comando do navio que afundava”. E veio a marca infeliz: “tinha-se a impressão de que não havia governo naquele fim melancólico de mandato esticado de Sarney, que elevou a inflação a 83% no seu último mês.” O relato em seguida da experiência do Plano Collor é arrasador. Tudo inesperado e mal explicado: o plano “desorganizou vida e anarquizou os projetos pessoais de todos... “ O confisco absurdo, as inseguranças da equipe, o destempero, tudo mostrado com realismo, inclusive o lado bom do estímulo à abertura do país. Em síntese: “O Plano Collor foi o mais devastador dos erros cometidos. E não trouxe a estabilidade. “ Mais adiante, vem, com grande competência e abundância de dados e informações, a delicada narrativa da experiência que resultou no Plano Real e na tão esperada e perseguida novidade da moeda estável, com os seus bons frutos e efeitos positivos na modernização e avanços do país. Com apurado senso jornalístico, a autora nos apresenta, de fato, uma verdadeira saga, em busca da proteção e estabilidade da moeda brasileira. Ótima leitura
Abraço caloroso.