sábado, 16 de abril de 2011

Livro - Meu tipo de garota, de Buddhadeva Bose

Completei hoje leitura muito especial e agradável: ¨Meu tipo de garota¨, de Buddhadeva Bose, Cia. das Letras, l95l-2009-2011, l46 páginas.

 

 O autor (l908-l974), nascido em Bengala, foi um dos mais destacados escritores bengalis do século XX. ¨Meu tipo de garota¨é um texto da maior delicadeza, suave, sutil. Reúne quatro personagens aparentemente estranhos e que se encontram na sala de espera da estação ferroviária de Tundla, na Índia, numa noite fria de inverno, enquanto aguardam a ferrovia voltar a funcionar. Inspirados pela entrada repentina de casal de jovens na sala, decidem, para matar o tempo, que cada um dos quatro passageiros passe a contar uma história de amor de que tenham participado ou de que sejam testemunhas.  São quatro pessoas com diferentes profissões, de regiões diferentes: um empreiteiro, um burocrata do governo, um médico renomado, um escritor praticamente desconhecido. As histórias, refinadas e conduzidas com acuidade e sutilezas,formam  um painel delicado das emoções humanas, refletindo as variadas formas de amor. Em síntese: o empreiteiro relata a história de Makhanal, filho de marceneiro formado na faculdade, bem sucedido nos negócios e cada dias mais rico, mas que não consegue romper a resistência  da família vizinha e conquistar a filha; o funcionário do governo conta a história do seu próprio amor na adolescência, uma bonita garoto que o amava mas que termina casando com outro homem; o médico conta uma história de final feliz, embora repleta de embaraços e dificuldades; o escritor Bikash, poeta melancólico e sentimental, faz um relato singular de três  amigos dedicados  e que exercitam um amor platônico por uma moça de família rica e que se casa com um morador de Calcutá.  Os relatos, independentes e autônomos, mostram ao final uma profunda consistência, revelando importantes aspectos da sociedade indiana do principio do século XX. Trata-se de um dos livros mais importantes de Bose,  num texto originalmente publicado em l95l. A meu ver, ótimo :  recomendo ! Abraços.  

Antonio A. Veloso.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Livro “Percorrendo Memórias” Dr. Aloysio Campos da Paz Júnior

Brasília, 12 de abril de 2011.


Participei, no último dia 6/4, no Salão Nobre do Senado Federal, do lançamento do recente livro do Dr. Aloysio Campos da Paz Júnior, “Percorrendo Memórias” (gráfica da Rede SARAH, Sara Letras, 2010, 190 páginas). O livro, em fino acabamento e esmerada apresentação gráfica, conta com fotos do arquivo pessoal do autor e do arquivo da Rede SARAH: o prefácio, intitulado Um Homem Diferente, é de autoria do filósofo Leandro Konder, e o posfácio reúne comentários da professora Adélia Bezerra de Meneses. Leandro Konder assinala: “o doutor Aloysio Campos da Paz é uma pessoa diferente de todas as outras... Seu livro está cheio de referências a momentos cruciais do século XX. Aloysio pertence, eticamente, ao grupo daqueles que costumamos classificar de esquerda democrática, isto é, àquele setor da sociedade que luta não só pela liberdade para todos, mas também pela igualdade (ou, dito em outros termos, pela diminuição das desigualdades sociais).” A professora Adélia Bezerra de Meneses, respondendo à pergunta sobre se valeu a pena o livro de memórias, pois “memórias” podem ser algo muito chato”, foi taxativa: “Depende de quem são as memórias. Efetivamente, sendo seu autor quem é, trata-se aqui, ultrapassando o individual e o pessoal, de memórias de uma geração, da qual ele é porta-voz e agente.” O texto é, de fato, representativo, mostrando desde a infância do autor, sua família, sua vida no Rio de Janeiro e posteriormente em Brasília, os estudos, a estada no exterior, doutorado em Oxford, toda a convivência com os colegas e grandes mestres, a experiência e vivência com os acontecimentos militares da década de 1960, os chamados “anos de chumbo”, a retomada da democracia e os seus conflitos, o advento da Constituição de 1988 e tudo mais. Paralela e concomitantemente, descreve a sua luta profissional na medicina, os seus projetos singulares, a evolução das idéias e planos até a implementação da Rede SARAH nos diferentes espaços do país (Brasília, Salvador, São Luis, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Belém, Macapá). Conta, ainda, a  “aventura” da implantação dos regimes de tempo integral e, por último, da dedicação exclusiva nos projetos do SARAH, o “Sarinha”, o “Sarão” e tudo mais. No livro, tudo é relatado em tom ameno e discreto, com jovialidade e bom humor, mesmo quando se tratava de abrir mão do seu lucrativo consultório particular ou quando a matéria era política/militar. Refletindo o seu sentido de gratidão, doutor Aloysio faz, delicada e discretamente, o registro em favor das pessoas que colaboraram no governo federal com o seu programa e com a montagem da estrutura financeira para a respectiva implementação: “Para que o programa começasse a ser implementado, pois ele circularia através da Secretaria de Planejamento da Presidência da República, teve um papel fundamental Antonio Augusto dos Reis Veloso, irmão do então ministro do Planejamento, João Paulo dos Reis Velloso. Quando a proposta estava pronta, foi defendê-la perante o ministro.” A foto da contracapa, de sua autoria, mostrando o casal de jovens em cadeiras de roda se beijando amorosamente, é muito bonita, marcante e emblemática. Digna de registro, igualmente, a delicadeza com que o autor se refere à doutora Lucia Willadino Braga, prata da casa, e hoje cientista de renome, desde cedo dedicada à Rede SARAH e que ora dirige com dedicação e competência. Em Oxford, doutor Aloysio já havia recebido do doutor Trueta a sentença: “Você vai se sentir professor somente quando formar alguém melhor que você.” Segundo o doutor Aloysio, o destino se cumpriu na pessoa da doutora Lucinha, eleita em novembro de 1999 doutora honoris causa da Universidade de Reims, na França, por seus trabalhos na área da neurociência. A meu ver, valeu a pena o registro das memórias.
Abraço para todos.
Antonio A. Veloso

domingo, 10 de abril de 2011

Livro - Churchill de Paul Johnson

É com entusiasmo que faço a resenha de ótimo livro que acabei de ler, no gênero de biografia: ¨Churchill¨, de Paul Johnson, Editora Nova Fronteira, 2009/20l0, l59 páginas. 


 O autor, jornalista e historiador inglês, opera verdadeiro milagre em conseguir reunir em pouco mais de l50 páginas os fatos relevantes da trajetória grandiosa dos 90 anos de Churchill (Winston Leonard Spencer Churchill, l874-l965), ö grande homem do século¨, em contraste, por exemplo, com a melhor biografia até agora disponível de autoria de Roy Jenkins, com cerca de 900 páginas, escrita aos oitenta anos do autor.  O texto de Paul Johnson é precioso, dinâmico, retratando com
vigor o verdadeiro turbilhão que foi a vida de Churchill, personagem singular e relevante na Inglaterra e no mundo, sobretudo na Segunda Guerra Mundial, entre l939-1945. Fala-se de que o livro foi uma encomenda da editora para apresentar e familiarizar os jovens com o maior estadista do século 20.  Criança esperta e saudável, filho de pais ilustres, desenvolveu trajetória política vertiginosa, meteórica, conturbada e repleta de conflitos e rixas.  Orador destacado e impressionante, aperfeiçoou fluência na língua inglesa escrita e falada: era um cuidadoso dominador das palavras, um verdadeiro ¨mestre, um virtuose em seu uso¨.  Ao final de sua vida, calcula-se que Churchill tinha acumulado a publicação de cerca de 10 milhões de palavras, mais do que a maioria dos escritores profissionais. Ainda cedo, quando indagado sobre a que atribuía seu sucesso na vida, respondeu: ¨Preservação da energia. Nunca ficar de pé quando pode sentar e nunca sentar quando pode deitar¨. Ele curtia o hábito de ¨trabalhar pela manhã na cama, falando ao telefone, ditando e consultando.¨ A despeito disso, nunca se furtou ao trabalho pesado propriamente dito,numa jornada muitas vezes habitual de dezesseis horas por dia. O texto do autor, Paul Johnson, nos faz sentir participantes pessoais da vida eletrizante de Churchill, como se estivéssemos em companhia do personagem. As descrições da época da Segunda Guerra Mundial são raras e imperdíveis, coroadas no livro com a indicação dos dez pontos essenciais para responder sim à pergunta sobre se Churchill salvou pessoalmente a Inglaterra. Vale a pena aprofundar esses dez pontos essenciais, mostrados no capítulo 6 – Poder Supremo e Frustração.  Outro ponto alto do texto, logo em seguida ao êxito final da guerra é o que fala da reação da esposa de Churchill,|Clementine, ao comentar o resultado desastrado das eleições de l945, com a derrota de Churchill: ¨Talvez seja uma benção disfarçada¨. Johnson expõe, com riqueza de detalhes,as diversas formas com que essa crença se justificou, na prática: Churchill foi poupado da agonia de ¨presidir a uma dramática mas inevitável contração do poder global da Inglaterra¨( a nação emergiu exaurida do conflito e empobrecida);  o governo trabalhista no poder não hesitou na concessão da independência à Índia, dividida em duas partes, a hindu e a muçulmana, com terríveis massacres;Churchill foi também poupado de presidir ao nascimento de Israel, a de3speito de ser ardoroso sionista; Churchill considerou uma sorte a guerra da Coréia acontecer no governo trabalhista; a derrota de Churchill na eleição de l945 foi também uma benção por aliviar a sua carga de trabalho, o que evitou sua morte mais cedo, segundo os médicos. Churchill faleceu em 27 de janeiro de l965. No final, vê-se que o resumo de sua vida foi valiosíssimo: aos 90 anos, Churchill passou 55 como membro do parlamento, 31 como ministro e quase 9 no cargo de primeiro-ministro;  participou de l5 batalhas, foi figura relevante na Primeira Guerra Mundial e teve atuação destacada na Seunda Guerra Mundial ; foi autor privilegiado, com cerca de 10 milhões de palavras publicadas e foi pintor de mais de 500 telas; reconstruiu imponente propriedade particular, com magnífico jardim com três lagos; recebeu o Prêmio Nobel de Literatura e inúmeras comendas e honrarias.  Assim, Winston Churchill teve uma vida plena,e poucas pessoas talvez possam igualá-la  -  em escopo, variedade e sucesso em tantas frentes.¨  Recomendo!     Sinceramente,