segunda-feira, 5 de junho de 2006

Curso: Estudo do “Pai-Nosso”

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Pai-Nosso”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
4º Encontro: 05/06/2006, 2.ª feira (16h12 às 17h57)
1. Após um profundo e consciente exercício de respiração, foram rezados o Pai Nosso e a Ave Maria.
2. Foi explicado que, na litrurgia, o Pai Nosso não se encerra com o amém logo após a expressão “mas livrai-nos do mal”. Acrescenta-se a isso: “vosso é o reino, o poder e a glória para sempre”, seguida do amém.
3. Foi dito ainda que o Pai Nosso ecumênico é colocado na segunda pessoa, mantida a forma “perdoai-nos aos nossas ofensas” e feito o acréscimo final indicado (“vosso é o reino, o poder e a glória para sempre, amém”).
4. O Prof. Paulo Ueti voltou a enfatizar que, na liturgia, o ofertório ocorre no momento da própria doxologia, quando se dá a oferta do próprio Cristo: é Ele que se oferece livremente para todos nós. O ofertório, após a consagração, está dentro do rito eucarístico.
5. Neste início de encontro, será visto o quarto pedido do Pai Nosso, que é o mais importante: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”.
6. Por que é importante? É que a figura do pão como comida tem grande importância para todos nós. Na nossa vida, tem que ter pão, como meio para saciar a fome. Cerca de 80% da população do mundo passa pela situação de fome.
7. Toda religião tem a ver com a ordem do mundo, com o sentido de poder ajudar as pessoas a viver, ou seja, com comida e saúde do povo. O restante vem por acréscimo. Jesus usou o símbolo do pão, que alimenta fisicamente. Trata-se de comida de verdade, comida material, física. E isso é para ser dado hoje, e não amanhã (“o pão nosso de cada dia...”). É certo que não é somente a fome física, mas também a espiritual (“não só de pão vive o homem”). De toda maneira, é essencial saciar a nossa fome e das outras pessoas. Como, pois, colaboramos objetivamente para que as pessoas tenham comida, tenham possibilidade de viver? Como enfrentar a fome, fome real e objetiva? Como ajudar na solução do problema da gente pobre, necessitada, que precisa viver, saciar a fome?
8. O mundo não vive de abstrações. Jesus fez isso: curou a saúde das pessoas doentes, deu comida. Símbolo do Reino: banquete, com comida e bebidas. É preciso, pois, rever os nossos conceitos de saúde e de doença, sendo realistas e efetivos. Não podemos ser utópicos, imaginando que as pessoas sejam plenamente felizes ou plenamente infelizes. Está tudo ligado, embricado. É preciso colocar as coisas no contexto real e certo.
9. Só Deus é absoluto! Mais de 80% da prática médica não têm explicação estritamente científica. Nem tudo é tão absolutamente absoluto, certo ou errado. É preciso ver o contexto, avaliar, utilizar o bom senso. Na religião, é também fundamental usar o bom senso.
10. Anamnese: a expressão veio da saúde, significando fazer a memória da pessoa com quem se está lidando. Na religião, é relevante fazer as perguntas: quem é, de onde veio, como é a sua vida? É preciso perguntar pelo motivo das coisas; perceber a realidade das pessoas, qual é a fome das pessoas. É preciso relacionar-se com as pessoas e vê-las no contexto da sua efetiva realidade.
11. O quarto pedido do Pai Nosso, nessas condições, é a pergunta pela fome das pessoas, agora, hoje. Jesus não está preocupado diretamente com a religião, mas com a vida das pessoas. Jesus curou no sábado: não há dia para a doença e para o exercício da misericórdia.
12. A vida de Jesus tem a ver com o corpo das pessoas. Não cabe espiritualizar demais o quarto pedido do Pai Nosso: não se trata de hóstia ou outro simbolismo, mas de assegurar o pão material. Tem que dar o pão cotidiano, e dar para todos. Na última ceia, foi para Judas que Jesus deu o primeiro pedaço de pão. Não é só para os amigos, mas para todos, para todo o mundo.
13. Foi lembrado que Jesus, ao definir a missão, chamou os seus discípulos e os enviou para bem longe dele.
14. Houve, a propósito da vida de Jesus e de seus ensinamentos, ampla reflexão do Prof. Paulo Ueti e dos participantes sobre o importante diálogo entre Jesus e a mulher cananéia, conforme relatado por Mateus (15, 21-28):
“Jesus partindo dali, retirou-se para a região de Tiro e de Sidônia. E eis que uma mulher cananéia, daquela região, veio gritando: “Senhor, filho de Davi, tem compaixão de mim: a minha filha está horrivelmente endemoninhada”. Ele, porém, nada lhe respondeu. Então os seus discípulos se chegaram a ele e pediram-lhe: “Despede-a, porque vem gritando atrás de nós”. Jesus respondeu: “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.”
Mas ela, aproximando-se prostrou-se diante dele e pôs-se a rogar: “Senhor, socorre-me!” Ele tornou a responder: “Não fica bem tirar o pão dos filhos e atirá-lo aos cachorrinhos.” Ela insistiu: “Isso é verdade, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos!” Diante disso, Jesus lhe disse: “Mulher, grande é tua fé! Seja feito como queres! E a partir daquele momento sua filha ficou curada.”
15. Vê-se a profundidade do ora reproduzido diálogo: inicialmente, Jesus não se dispõe a dar o pão, ou seja, não se mobiliza para o apelo de atender à filha endemoninhada, sob o frio argumento: “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”. Diante da insistência da mulher estrangeira, explica: “Não fica bem tirar o pão dos filhos e atirá-los aos cachorrinhos”. A mulher não desiste e, corajosamente, insiste: é verdade, Jesus, mas você não tem controle sobre o pão a ser dado a todos, de modo que as migalhas sobram e os cachorrinhos comem os restos.
16. Observa-se que o jeito de Jesus atraiu a atenção da estrangeira: ela se prostrou diante de Jesus e fez o apelo. Os discípulos não colaboraram e , ao contrário, sugeriram que Jesus despedisse a mulher. O próprio Jesus se esquivou, como que querendo dizer que não veio para todos, mas apenas para o povo de Israel. Mais adiante, a ficha de Jesus caiu, pois a mulher revelou grande fé e estava pedindo pela saúde de sua filha (demônio é doença física e psíquica). A mulher, mesmo como estrangeira, estava querendo participar do processo de graça que Jesus estava propiciando. Por isso, a sua reação foi forte e muito tocante e Jesus reconheceu: “Mulher, grande é tua fé! Seja feito como queres!”
17. O Prof. Paulo Ueti assinalou que, na Igreja, somos diluídos e distorcidos, não oferecendo segurança psicológica e espiritual para as pessoas.
18. Voltando ao tema, enfatizou que o pão de que se trata é físico e relacional: é indispensável a convivência. Daí a beleza da interação que Jesus faz.
19. É importante indagar se o Pão Nosso de cada dia, que é também a eucaristia, ajuda a gente a sair de dentro de nós e conviver com os outros. É preciso nos movermos e nos comovermos com as pessoas.
20. Cada um de nós tem uma vocação diferente. O fundamental é ter em conta que o contato com as pessoas muda o nosso jeito e ensina a olhar diferente para as pessoas, para os pobres, para os necessitados. É preciso se envolver, diretamente ou apoiando quem dá conta de enfrentar o quadro de miséria e de necessidades do mundo. Isso ajuda a rever a nossa espiritualidade.
Intervalo: 17h17 às 17h36
21. Dando seguimento: “perdoai as nossas dívidas (ofensas), como nós perdoamos nossos devedores (quem nos ofendeu)”.
22. Perdoar: capacidade de exercer a misericórdia. O Pai Nosso assume que temos essa capacidade de perdoar, de exercer o perdão. Do jeito que perdoamos, pedimos a Deus que nos perdoe.
23. A pergunta é: “nós, de fato, aprendemos a perdoar?” O importante é saber que o perdão é via de mão dupla: primeiramente, o perdão é para mim; depois é que vai para o outro (o que está dentro sai para fora). Jesus: o que traz impureza, o que impurifica é o que sai de dentro.
24. A nossa capacidade de perdão (que reconcilia) existe? O perdão tem que ser explícito: tenho que pedir desculpa ou dizer que não fiquei satisfeito. O perdão é, assim, fundamental e problemático. Vai depender fortemente do processo de auto-conhecimento, que significa percorrer um caminho difícil e profundo, na busca de saber para onde estamos indo. O processo de reconciliação exigirá que eu examine por que fiquei chateado. Exercício de auto-conhecimento. Isso tudo precisa ser verbalizado. É preciso buscar a base da reconciliação. O perdão vai ser um caminho de mão dupla.
25. O problema somos nós: “como nós perdoamos os nossos devedores?” É falácia ou verdade? Eu tenho que dizer que perdôo, eu tenho que me mudar.
26. Encerrando o encontro, o Prof. Paulo Ueti recomendou a leitura de livro de autoria do monge beneditino, Anselm Grün, sobre os ritos da purificação, relacionados com a questão do perdão.
Brasília, 05/06/2006