segunda-feira, 29 de maio de 2006

Curso: Estudo do “Pai-Nosso”

Curso: Estudo do “Pai-Nosso”

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Pai-Nosso”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
3º Encontro: 29/05/2006, 2.ª feira (16h10 às 18h)
1. O encontro foi iniciado com a leitura do Salmo 131 (130):
“Javé, meu coração não se eleva,
nem meus olhos se alteiam;
não ando atrás de grandezas,
nem de maravilhas que me ultrapassam.
Não! Fiz calar e repousar meus desejos,
como criança desmamada no colo de sua mãe,
como criança desmamada estão em mim meus desejos.
Israel, põe tua esperança em Javé,
desde agora e para sempre.”
2. O Salmo 131 é o salmo da peregrinação, rezado nas romarias, na subida a Jerusalém. Mostra a necessidade de que cada um de nós seja como uma criança. É preciso assumir o espírito de criança que clama pelo Pai, à semelhança do que se faz na oração do Pai Nosso, oração comunitária, em que toda a humanidade se dirige ao Deus Pai.
3. O primeiro passo no nosso caminho espiritual é saber a quem se dirige o pedido. Quem é o Deus a quem estou me dirigindo? “Eu sou o Deus que te tirou do deserto, da escravidão do Egito”.
4. A oração do Pai Nosso mostra que não cabe privatizar Deus, aprisioná-lo, determinar as coisas em relação a Deus. É fundamental descobrir quem é Deus e saber que Deus é Pai, é de todos, mesmo daquele que não quer.
5. “Pai Nosso que estás nos céus”. Deus não está só aqui na terra, mas em todo lugar. Ninguém é capaz de dizer o que são realmente os céus. Quando se está zangado, bravo com o filho, por exemplo, a reação é chamá-lo pelo nome, de tal modo que a pessoa fica controlada, presta atenção em você. O judeu não chama o nome de Deus em vão: “Eu sou”. Jesus: “Eu sou salva”. Quando a gente é “eu sou salva”, está integrado, está controlado. Não se pode, pois, dizer o nome de Deus em vão, pois seria mentir para si mesmo.
6. Temos, assim, uma pergunta que é eterna para nós: “quem sou eu?” Jesus chama Deus de Pai, paizinho. Quer dizer: ternura, amor, proteção. Em aramaico, melhor seria dizer que Deus é mãe. Na nossa sociedade, pai é normalmente uma figura opressora. De qualquer forma, é preciso ter em conta que Deus é o Pai. O nosso Pai, o Pai de todos nós.
7. O primeiro pedido explicitado na oração do Pai Nosso é: “santificado seja o teu nome”. Deus é santo. A súplica é para que Ele seja glorificado (manifestado). Para que o nome de Deus seja manifesto, presente no mundo.
8. Como foi dito antes, o Pai Nosso é oração comunitária, não privada. O primeiro pedido tem a ver com “não dizer o santo nome de Deus em vão”. Ou seja: não colocar o nome de Deus naquilo que Ele não gosta. Não usar Deus, por exemplo, como instrumento de castigo. Por outras palavras, é não fazer de Deus o que Ele não é. Devemos ser mais fiéis à essência do que Deus é.
9. O pedido do Pai Nosso, pois, é para que o nome de Deus seja manifesto. O sentimento que caracteriza Deus é a misericórdia, o amor. Glorificá-lo é reconhecer essa condição. É preciso que a misericórdia de Deus seja manifestada.
10. Quem é responsável pela misericórdia de Deus? Nós, através do nosso testemunho. Temos que testemunhar o amor de Deus. Onde as pessoas encontram Deus? Onde são bem acolhidas. A questão central é, pois, a hospitalidade. Isso depende de nós, do nosso corpo, do nosso movimento, da nossa atitude.
11. O segundo pedido do Pai Nosso é: “venha a nós o teu Reino”. Pedido destinado a todos, para o mundo. Trata-se de novo mundo, nova ordem. Outro ponto fundamental: o teu Reino, o Reino de Deus – o Reino que é novo, que precisa ser ajudado a construir por nós. Isso tem a ver com o jeito de viver a sua vida: o Reino de Deus acontece quando a minha vida se parece com a vida de Jesus. Para isso, eu preciso conhecer Jesus. Fazer o encontro pessoal com Jesus, o que pode ser feito através da Bíblia, da Igreja, da comunidade. É preciso fazer o pedido para que o Reino venha todos os dias. E ele vem quando me disponho a fazer as coisas acontecerem. Deus quis assim: depender de nós para a construção do Reino.
12. É preciso não confundir o Reino com a salvação final. A nossa salvação começa aqui com o Reino, que precisa da nossa ação, precisa ser construído por nós. Recorde-se que no capítulo das bem-aventuranças é dito que o Reino está no meio de nós. No fim, vamos ter a plenitude da salvação, que depende de Deus.
13. O terceiro pedido do Pai Nosso diz: “seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. Quanto à primeira parte, é difícil saber qual é a vontade de Deus. Eu preciso me comprometer com ela. Toda a oração do Pai Nosso desenvolve um compromisso comunitário.
14. Quem me ajuda a saber o que é certo, o que é a vontade de Deus? É a comunidade! Fazer tudo junto, em comunhão: esse é o caminho do discernimento. É preciso discernir.
15. O desejo de Deus sempre nos leva para o equilíbrio, que não é pacífico, é conflituoso. O equilíbrio dói, é difícil, não é tranqüilo. O deserto nos ajuda a manter o equilíbrio.
16. Foi lembrada a passagem da angústia de Jesus: “Pai, afasta de mim esse cálice, mas não seja feita a minha vontade e sim a tua vontade”. Escutar e fazer (obediência), mesmo que isso signifique perdas para nós. Foi também recordado o episódio do deserto com o diálogo entre Deus e Moisés: Deus manda Moisés falar com o Faraó e Moisés resiste, querendo a garantia de saber que tudo vai ser cumprido. E Deus responde a Moisés: “quando todos tiverem saído do Egito e estiverem fora, bem longe do Egito, vocês vão saber que eu estava do lado de vocês”. É preciso fazer para saber. O caminho é contruído no dia-a-dia, nas ações e atitudes:
“Caminheiro, você sabe: não existe caminho; passo a passo, pouco a pouco, o caminho se faz”.
17. A tarefa é árdua. É cansativo. É preciso refletir, avaliar. É conflitivo. Isso se chama método, caminho. É preciso aprender com o método.
18. Fazer a vontade de Deus exige de nós perguntar, ouvir, saber qual é a vontade de Deus. É preciso viver a crise e discernir.
19. O Prof. Paulo Ueti assinalou, para os fins de evangelização, que falta na Igreja a prática do Ministério da Escuta. Escutar com fé, com liberdade, o que as pessoas têm a dizer para nós.
Intervalo: 17h15 às 17h35
20. Continuando a reflexão sobre o terceiro pedido do Pai Nosso, foram desenvolvidos alguns comentários sobre a parte final: “assim na terra, como no céu.” Está por trás o fato de que o Reino de Deus, que está no céu, precisa acontecer aqui na terra. O jeito que a gente vive aqui na terra precisa ser cada vez mais parecido com o jeito do céu. A terra tem que ser igual ao céu: o céu se incorpora à terra.
21. O céu começa aqui, entre nós, conforme diz Anselm Grün. A glória de Deus começa no céu e se espalha na terra. As coisas se misturam. Na descrição do Apocalipse, o céu e a terra se juntaram. Está tudo junto. A terra tem que ser espelho do céu. Quando acontecer a plenitude em tudo, a fé não será mais necessária. Até lá, a fé é essencial. Por enquanto, precisamos da fé e da militância.
22. O céu é o lugar onde Deus habita. Deus se encarnou. A imagem que eu tenho é que Deus quer a minha participação para viver na terra um pedaço do céu, tornando o céu uma realidade.
23. Diferentemente de generosidade, que é um gesto isolado, a caridade exige que a pessoa se envolva, se comprometa. Precisamos ser cada vez mais caridade, que exige comprometimento e conversão. Nós fazemos muitas vezes coisas erradas. É preciso encontrar caminhos coletivos.
24. Na vida eclesial, a busca dos caminhos é mais difícil, mais tormentosa do que em nossa casa. São vividas crises e mais crises, difíceis de administrar. Nós não conseguimos ser irmãos, fraternos.
25. A vontade de Deus precisa encher a terra, ser objetiva, voltada para o dia-a-dia. Tudo isso exige freqüentar o deserto e encontrar Deus, ver os nossos limites, as nossas fraquezas. É preciso chegar até o deserto, lugar onde nos dispomos a silenciar e encontrar Deus. É preciso fazer o encontro e ouvir. Chegar ao discernimento.
26. O Prof. Paulo Ueti referiu-se à passagem em que Elias foge para o deserto para pedir ajuda a Deus e se esconde em uma gruta. A cada tormenta – furacão, terremoto, fogo – Elias aparecia e procurava Deus e Ele não estava ali. Passou uma leve brisa e Elias não percebeu que ali estava Deus. (1 Reis, 19).
27. O ponto focal de tudo é que temos um problema com a imagem que se tem de Deus. Onde encontramos Deus ou onde não o encontramos? É só lembrar a parábola das virgens para perceber que não se pode dormir. Lerdeza no Reino de Deus não funciona. O Reino de Deus é daqueles que estão antenados, ligados, vigilantes. É preciso velar, vigiar, estar sempre atento. Não deixar as oportunidades passarem. Em síntese: estar atentos para as oportunidades e fazer o nome de Deus estar presente.
Brasília, 29/05/2006.

segunda-feira, 8 de maio de 2006

Curso: Estudo do “Pai-Nosso” 1º Encontro

Curso: Estudo do “Pai-Nosso” 1º Encontro

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO

Curso: Estudo do “Pai-Nosso”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)

Notas Avulsas


1º Encontro: 08/05/2006, 2ª feira (16h17 às 18h)

1. O Prof. Paulo Ueti manifestou o desejo de começar o curso rezando, o que foi feito com a participação de todos na leitura do Salmo 27 (26):

“Javé é minha luz e minha salvação: de quem terei medo?
Javé é a fortaleza de minha vida: frente a quem tremerei?
Quando os malfeitores avançam contra mim para devorar minha carne, são eles, meus adversários e meus inimigos, que tropeçam e caem.
Ainda que um exército acampe contra mim, meu coração não temerá;
Ainda que uma guerra estoure contra mim, mesmo assim estarei confiante.
Uma coisa peço a Javé, a coisa que procuro: é habitar na casa de Javé todos os dias de minha vida, para gozar a doçura de Javé e meditar no seu templo. Pois ele me oculta na sua cabana no dia da infelicidade; ele me esconde no segredo de sua tenda, e me eleva sobre uma rocha.
Agora minha cabeça se ergue sobre os inimigos que me cercam; sacrificarei em sua tenda sacrifícios de aclamação.
Cantarei, tocarei em honra de Javé!
Ouve, Javé, meu grito de apelo, e tem piedade de mim, e responde-me!
Meu coração diz a teu respeito: “Procura sua face!”
É tua face, Javé, que eu procuro, não me escondas a tua face.
Não afastes teu servo com ira, tu és o meu socorro!
Não me deixes, não me abandones, meu Deus salvador!
Meu pai e minha mãe me abandonaram, mas Javé me acolhe!
Ensina-me o teu caminho, Javé!
Guia-me por vereda plana por causa daqueles que me espreitam;
Não me entregues à vontade dos meus adversários, pois contra mim se levantaram falsas testemunhas, respirando violência.
Eu creio que verei a bondade de Javé na terra dos vivos.
Espera em Javé, sê firme!
Fortalece teu coração e espera em Javé!”


1


2. O Salmo 27 é texto tipicamente pascal e nos transmite o ensinamento de que Deus é a nossa luz, a nossa salvação. Não devemos ter medo de ninguém e de nada. “Não tenhais medo!” Não é para ter medo e nem colocar medo em ninguém: o Senhor é a rocha, o Senhor é a salvação, o Senhor é o abrigo, o Senhor é a fortaleza, o Senhor é a luz. São Paulo: “Nada pode nos separar do amor de Cristo.” É importante, também, não separarmos ninguém do amor de Cristo. Não devemos cometer o erro de imaginar que o Cristo é só nosso, nos pertence. Foi lembrado o episódio de Maria Madalena com o Cristo ressuscitado, em que Jesus disse: “Não me retenha, não me agarre.”

3. Não é possível apropriar-nos de Deus. Ele não é minha propriedade. No máximo, estará a nosso alcance fazer alguém reconhecer Jesus.

4. Lucas (11,1): “Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos”. Há dois textos do Pai Nosso, um de S. Lucas, mais breve e com cinco pedidos, e outro de S. Mateus, em versão mais ampla, com sete pedidos. A idéia do curso é examinar os dois textos, refletir sobre eles e avaliar as diferenças.

5. O Prof. Paulo Ueti indicou, a propósito, as seguintes leituras:

a) “Pai-Nosso - Oração da Utopia”, de Evaristo Martin Nieto (Ed. Paulinas);
b) “Bem-Aventuranças e Pai Nosso”, de Jean Ives Leloup (Ed. Vozes).

6. Durante o curso, haverá um retorno ao ambiente de oração, no caso uma oração específica, o Pai Nosso, ensinada pelo próprio Jesus.

7. O ponto central é o de examinar como olhar para a vida, para a nossa história, de uma maneira toda especial, de uma maneira orante. É preciso ter em conta que a oração pode ser muita coisa. É preciso saber distinguir, por exemplo, entre cristão e crístico. Nós somos cristãos, vivemos uma realidade cristã. Em nossa caminhada, queremos ser cada vez mais crísticos: parecer mais e mais com Cristo. Diferentemente, Ghandi não era cristão, não quis ser cristão, mas tinha a vivência de uma realidade crística.

8. A nossa vida precisa ser orante. Oração: tem a ver com falar, verbalizar. Na nossa tradição religiosa, porém, é mais do que isso, é mais que a palavra, que já é algo poderoso (a palavra cria a realidade). A oração vai além e tem a ver com diálogo (dia: diversos sentidos, querendo dizer através; logos: palavra). Diálogo: através da palavra, por meio dela e para além dela.

2

9. Diálogo não é, pois, apenas troca de códigos. Precisa do silêncio, para também escutar e deixar falar. Oração é, necessariamente, um encontro, em que se vai além da nossa palavra. Trata-se de encontro na relação: é possível gerar conversão, mudança. O diálogo é vivificador, transforma, muda, é conversão. O diálogo pressupõe disposição e desapego, para que haja a transformação.

10. Oração não é, assim, uma simples lista de pedidos. O diálogo representa um encontro, sempre vai ser uma educação, um processo de discernimento, que tira de você para fora. Através das palavras, a pessoa precisa botar para fora, abrir-se, dizer, expor-se.

11. Todo encontro é uma experiência de meditação, de contemplação. A sua realização muda a nossa teoria. Dialogar (até o fim) é uma tarefa muito difícil. A oração nunca é a mesma palavra, no mesmo lugar, no mesmo ritmo.

12. Num dado momento, os discípulos pediram a Jesus que os ensinasse a orar. O Pai Nosso não é repetição daquelas mesmas palavras: é um encontro com Deus. Como se faz esse encontro? Como se faz o meu acesso a Deus?

13. Isso só ocorre quando a gente realiza o encontro consigo mesmo, com os irmãos e com Deus. É preciso entrar no processo do mistério: é comunhão. A oração é sempre comunicativa, relação comunitária, comunhão. Através da palavra, encontro Deus.

14. Muita gente acha que a Igreja é o mesmo que supermercado, local de negócios, balcão de consumo. Somos bons negociadores, mas nem sempre conseguimos fazer encontros verdadeiros, em que nos apresentamos tal como realmente somos, com as faltas e virtudes, retiradas as nossas máscaras.

15. A oração é fundamental: tem que ser algo que seja estruturante da nossa vida. É mais do que apenas fazer ritos. O rito é importante, mas é preciso ir além para realizar o verdadeiro encontro, atendendo a requisitos essenciais:

a) realizando o encontro comigo mesmo, descobrindo e revelando quem eu sou, com os meus limites e qualidades;

b) fazendo esse encontro também com o outro, que vai me ajudar a me descobrir, a me conhecer melhor.


3
16. É preciso saber distinguir claramente: quem são os amantes e entes queridos; os amigos; os cúmplices. Na Igreja, precisamos viver relações de conspiração, respirar o mesmo ar e ter os mesmos objetivos. É questão de cumplicidade: ter a mesma disposição de caminhar juntos, mesmo que não haja relação de amizade, de amor, de paixão.


Intervalo: 17h15 às 17h33.


17. Foi dito, no retorno, que na convivência de uma comunidade nem todas as pessoas são amigas. É preciso, nesse contexto, estabelecer certo nível de cumplicidade, de conspiração, a fim de dar curso e, juntos, seguir o caminho.

18. Respondendo a indagação feita, o Prof. Paulo Ueti enfatizou que encontro não é só fala, louvor. Referiu-se ao livro do monge beneditino Beda Griffits, intitulado “Retorno ao Centro”, para dizer que viemos de Deus e para Deus somos vocacionados. É indispensável que eu me dê conta disso: a partir daí, ninguém me separa de Deus.

19. De fato, são vários os estágios que devo percorrer, na economia da salvação. Entre eles, há o processo da catarse (dizer, dizer, dizer), mas até aí não se trata de encontro completo e verdadeiro. É preciso ir adiante, saber escutar, dar-se conta de si mesmo. Voltar ao centro: movimento de escutar a si mesmo. Silenciar e escutar. Tomar pé da situação. É no silêncio que me encontro comigo mesmo, por isso não posso ter medo do silêncio, da escuridão, da noite. No "retorno ao centro", por meio do encontro comigo mesmo, encontro a Deus.

20. Deus não interfere diretamente na vida das pessoas. Ele quis que nós nos envolvêssemos. Quando nos envolvemos, escutamos Deus.

21. Precisamos de tempo especial, precisamos de atender à liturgia. Exemplos: celebrar aniversário, cuidar de alguém doente. Ou seja, precisamos desse momento especial a ser observado.

22. Encerrando o encontro, foi mencionado que da próxima vez serão vistos os textos do Pai Nosso.


Brasília, 09/05/2006.

Curso: Estudo do “Pai-Nosso”

Curso: Estudo do “Pai-Nosso”

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Pai-Nosso”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
1º Encontro: 08/05/2006, 2ª feira (16h17 às 18h)
1. O Prof. Paulo Ueti manifestou o desejo de começar o curso rezando, o que foi feito com a participação de todos na leitura do Salmo 27 (26):
“Javé é minha luz e minha salvação: de quem terei medo?
Javé é a fortaleza de minha vida: frente a quem tremerei?
Quando os malfeitores avançam contra mim para devorar minha carne, são eles, meus adversários e meus inimigos, que tropeçam e caem.
Ainda que um exército acampe contra mim, meu coração não temerá;
Ainda que uma guerra estoure contra mim, mesmo assim estarei confiante.
Uma coisa peço a Javé, a coisa que procuro: é habitar na casa de Javé todos os dias de minha vida, para gozar a doçura de Javé e meditar no seu templo. Pois ele me oculta na sua cabana no dia da infelicidade; ele me esconde no segredo de sua tenda, e me eleva sobre uma rocha.
Agora minha cabeça se ergue sobre os inimigos que me cercam; sacrificarei em sua tenda sacrifícios de aclamação.
Cantarei, tocarei em honra de Javé!
Ouve, Javé, meu grito de apelo, e tem piedade de mim, e responde-me!
Meu coração diz a teu respeito: “Procura sua face!”
É tua face, Javé, que eu procuro, não me escondas a tua face.
Não afastes teu servo com ira, tu és o meu socorro!
Não me deixes, não me abandones, meu Deus salvador!
Meu pai e minha mãe me abandonaram, mas Javé me acolhe!
Ensina-me o teu caminho, Javé!
Guia-me por vereda plana por causa daqueles que me espreitam;
Não me entregues à vontade dos meus adversários, pois contra mim se levantaram falsas testemunhas, respirando violência.
Eu creio que verei a bondade de Javé na terra dos vivos.
Espera em Javé, sê firme!
Fortalece teu coração e espera em Javé!”
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2. O Salmo 27 é texto tipicamente pascal e nos transmite o ensinamento de que Deus é a nossa luz, a nossa salvação. Não devemos ter medo de ninguém e de nada. “Não tenhais medo!” Não é para ter medo e nem colocar medo em ninguém: o Senhor é a rocha, o Senhor é a salvação, o Senhor é o abrigo, o Senhor é a fortaleza, o Senhor é a luz. São Paulo: “Nada pode nos separar do amor de Cristo.” É importante, também, não separarmos ninguém do amor de Cristo. Não devemos cometer o erro de imaginar que o Cristo é só nosso, nos pertence. Foi lembrado o episódio de Maria Madalena com o Cristo ressuscitado, em que Jesus disse: “Não me retenha, não me agarre.”
3. Não é possível apropriar-nos de Deus. Ele não é minha propriedade. No máximo, estará a nosso alcance fazer alguém reconhecer Jesus.
4. Lucas (11,1): “Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos”. Há dois textos do Pai Nosso, um de S. Lucas, mais breve e com cinco pedidos, e outro de S. Mateus, em versão mais ampla, com sete pedidos. A idéia do curso é examinar os dois textos, refletir sobre eles e avaliar as diferenças.
5. O Prof. Paulo Ueti indicou, a propósito, as seguintes leituras:
a) “Pai-Nosso - Oração da Utopia”, de Evaristo Martin Nieto (Ed. Paulinas);
b) “Bem-Aventuranças e Pai Nosso”, de Jean Ives Leloup (Ed. Vozes).
6. Durante o curso, haverá um retorno ao ambiente de oração, no caso uma oração específica, o Pai Nosso, ensinada pelo próprio Jesus.
7. O ponto central é o de examinar como olhar para a vida, para a nossa história, de uma maneira toda especial, de uma maneira orante. É preciso ter em conta que a oração pode ser muita coisa. É preciso saber distinguir, por exemplo, entre cristão e crístico. Nós somos cristãos, vivemos uma realidade cristã. Em nossa caminhada, queremos ser cada vez mais crísticos: parecer mais e mais com Cristo. Diferentemente, Ghandi não era cristão, não quis ser cristão, mas tinha a vivência de uma realidade crística.
8. A nossa vida precisa ser orante. Oração: tem a ver com falar, verbalizar. Na nossa tradição religiosa, porém, é mais do que isso, é mais que a palavra, que já é algo poderoso (a palavra cria a realidade). A oração vai além e tem a ver com diálogo (dia: diversos sentidos, querendo dizer através; logos: palavra). Diálogo: através da palavra, por meio dela e para além dela.
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9. Diálogo não é, pois, apenas troca de códigos. Precisa do silêncio, para também escutar e deixar falar. Oração é, necessariamente, um encontro, em que se vai além da nossa palavra. Trata-se de encontro na relação: é possível gerar conversão, mudança. O diálogo é vivificador, transforma, muda, é conversão. O diálogo pressupõe disposição e desapego, para que haja a transformação.
10. Oração não é, assim, uma simples lista de pedidos. O diálogo representa um encontro, sempre vai ser uma educação, um processo de discernimento, que tira de você para fora. Através das palavras, a pessoa precisa botar para fora, abrir-se, dizer, expor-se.
11. Todo encontro é uma experiência de meditação, de contemplação. A sua realização muda a nossa teoria. Dialogar (até o fim) é uma tarefa muito difícil. A oração nunca é a mesma palavra, no mesmo lugar, no mesmo ritmo.
12. Num dado momento, os discípulos pediram a Jesus que os ensinasse a orar. O Pai Nosso não é repetição daquelas mesmas palavras: é um encontro com Deus. Como se faz esse encontro? Como se faz o meu acesso a Deus?
13. Isso só ocorre quando a gente realiza o encontro consigo mesmo, com os irmãos e com Deus. É preciso entrar no processo do mistério: é comunhão. A oração é sempre comunicativa, relação comunitária, comunhão. Através da palavra, encontro Deus.
14. Muita gente acha que a Igreja é o mesmo que supermercado, local de negócios, balcão de consumo. Somos bons negociadores, mas nem sempre conseguimos fazer encontros verdadeiros, em que nos apresentamos tal como realmente somos, com as faltas e virtudes, retiradas as nossas máscaras.
15. A oração é fundamental: tem que ser algo que seja estruturante da nossa vida. É mais do que apenas fazer ritos. O rito é importante, mas é preciso ir além para realizar o verdadeiro encontro, atendendo a requisitos essenciais:
a) realizando o encontro comigo mesmo, descobrindo e revelando quem eu sou, com os meus limites e qualidades;
b) fazendo esse encontro também com o outro, que vai me ajudar a me descobrir, a me conhecer melhor.
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16. É preciso saber distinguir claramente: quem são os amantes e entes queridos; os amigos; os cúmplices. Na Igreja, precisamos viver relações de conspiração, respirar o mesmo ar e ter os mesmos objetivos. É questão de cumplicidade: ter a mesma disposição de caminhar juntos, mesmo que não haja relação de amizade, de amor, de paixão.
Intervalo: 17h15 às 17h33.
17. Foi dito, no retorno, que na convivência de uma comunidade nem todas as pessoas são amigas. É preciso, nesse contexto, estabelecer certo nível de cumplicidade, de conspiração, a fim de dar curso e, juntos, seguir o caminho.
18. Respondendo a indagação feita, o Prof. Paulo Ueti enfatizou que encontro não é só fala, louvor. Referiu-se ao livro do monge beneditino Beda Griffits, intitulado “Retorno ao Centro”, para dizer que viemos de Deus e para Deus somos vocacionados. É indispensável que eu me dê conta disso: a partir daí, ninguém me separa de Deus.
19. De fato, são vários os estágios que devo percorrer, na economia da salvação. Entre eles, há o processo da catarse (dizer, dizer, dizer), mas até aí não se trata de encontro completo e verdadeiro. É preciso ir adiante, saber escutar, dar-se conta de si mesmo. Voltar ao centro: movimento de escutar a si mesmo. Silenciar e escutar. Tomar pé da situação. É no silêncio que me encontro comigo mesmo, por isso não posso ter medo do silêncio, da escuridão, da noite. No "retorno ao centro", por meio do encontro comigo mesmo, encontro a Deus.
20. Deus não interfere diretamente na vida das pessoas. Ele quis que nós nos envolvêssemos. Quando nos envolvemos, escutamos Deus.
21. Precisamos de tempo especial, precisamos de atender à liturgia. Exemplos: celebrar aniversário, cuidar de alguém doente. Ou seja, precisamos desse momento especial a ser observado.
22. Encerrando o encontro, foi mencionado que da próxima vez serão vistos os textos do Pai Nosso.
Brasília, 09/05/2006.