terça-feira, 28 de março de 2006

Estudo do “Credo Apostólico” 03

Estudo do “Credo Apostólico” 03

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Credo Apostólico”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
3º Encontro: 27/03/2006, 2ª feira (16h10 às 18h06).
O Prof. Paulo Ueti fez as seguintes indicações de textos:
“O Nascimento dos Dogmas Cristãos”: Bernard Meunier
(Edições Loyola).
b) “Teologia da Revelação” – 4 Tomos.
1º Tomo: “ O Deus da Salvação” (Edições Loyola)
c) Carta Encíclica do Papa Bento XVI: “Deus Caritas Est”.
Foi feita referência à oportunidade do lançamento da Encíclica do
Papa Bento XVI, sobre o amor cristão: “Deus é amor, e quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4,16). A questão do “eros” e do “agape”. O amor “êxtase”.
As descrições de Ozéias e Ezequiel sobre a paixão de Deus pelo
seu povo, com arrojadas imagens eróticas. O Prof. Paulo Ueti falou
da importância do erotismo como fonte do desejo, fazendo a gente
ir para a frente. O cuidado para não perder o desejo.
Foi referido à teologia anterior do batismo, já superada, e que atribuía o pecado original à difundida história do pecado contra a castidade, entre Adão e Eva. Todo mundo nasce na verdade em pecado. A base está na desobediência. Deus cria o mundo. Já o pecado faz parte da natureza humana, do nosso descompasso. Faz parte da vida, da nossa existência. Negar o pecado seria desumanizar-se.
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São Paulo (Romanos 6):
“Que diremos, então? Que devemos permanecer no pecado a fim de que a graça se multiplique? De modo algum! Nós, que morremos para o pecado, como haveríamos de viver ainda nele? Ou não sabeis, que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados? Portanto pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova. Porque se nos tornamos uma coisa só com ele por morte semelhante à sua, seremos umas coisa só com ele também por ressurreição semelhante à sua, sabendo que nosso velho homem foi crucificado com ele para que fosse destruído esse corpo de pecado, e assim não sirvamos mais ao pecado. Com efeito, quem morreu, ficou livre do pecado. Mas se morremos com Cristo, temos fé que também viveremos com ele, sabendo que Cristo, uma vez ressuscitado dentre os mortos, já não morre, a morte não tem mais domínio sobre ele. Porque, morrendo, ele morreu para o pecado uma vez por todas; vivendo, ele vive para Deus. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus. Portanto, que o pecado não impere mais em vosso corpo mortal, sujeitando-vos às suas paixões; nem entregueis vossos membros, como armas de injustiça, ao pecado; pelo contrário, oferecei-vos a Deus como vivos provindos dos mortos e oferecei vossos membros como armas de justiça a serviço de Deus. E o pecado não vos dominará, porque não estais debaixo da Lei, mas sob a graça. E daí? Pecamos, porque não estamos debaixo da Lei, mas sob a graça? De modo algum! Não sabeis que, oferecendo-vos a alguém como escravos para obedecer, vos tornais escravos daquele a quem obedeceis, seja do pecado que leva à morte, seja da obediência que conduz à justiça? Mas, graças a Deus, vós, outrora escravos do pecado, vos submetestes de coração à forma de doutrina à qual fostes entregues e, assim, livres do pecado, vos tornastes servos da justiça. Emprego uma linguagem humana, em consideração de vossa fragilidade. Como outrora entregastes vossos membros à escravidão da impureza e da desordem para viver desregradamente, assim entregai agora vossos membros a serviço da justiça para a santificação. Quando éreis escravos do pecado, estáveis livres em relação à justiça. E que fruto colhestes então daquelas coisas de que agora vos envergonhais? Pois seu desfecho é a morte. Mas agora, libertos do pecado e postos a serviço de Deus, tendes vosso fruto para a santificação e, como desfecho, a vida eterna. Porque o salário do pecado e a morte, e a graça de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.”
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Em vez de nos preocuparmos em falar sobre o pecado ou sobre o
demônio, o melhor é deixá-los de lado e falar sobre a graça de Deus. Não faz sentido perder tempo com as coisas que já passaram e que já não têm mais poder sobre a gente. Precisamos libertar-nos dessas manipulações.
7. O Prof. Paulo Ueti convidou a todos os participantes para a leitura e reflexão, passo a passo, dos capítulos e artigos dos dois Credos – o Credo Apostólico e o Credo Niceno-Constantinapolitano (nº 184 do Catecismo da Igreja Católica)
8. Conforme relembrou, já foi feito anteriormente o comentário sobre o primeiro artigo: “Creio em Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra.”
9. Artigo 2º: “E em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir julgar os vivos e os mortos.”
10. Foi sublinhada a diferença com o texto do símbolo niceno, em que se explicita: “Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus e se encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim.”
11. Nos comentários, foi observado que o Credo faz a identificação de Jesus como o Messias. Cabe a nós ver claramente qual é esse Messias. (v. Isaías) – O Messias de que falamos é o Jesus de Nazaré, que é o Cristo. É aquele que precisa da nossa adesão. Na nossa religião, Jesus vai vocacionar a gente, vai chamar a gente.
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12. Na nossa fé cristã, Deus se identifica tanto e tanto conosco, com a nossa realidade humana, que vira gente e necessita de nós. Veja-se o diálogo de Jesus com a samaritana, cheio de equidade. Jesus inicia a conversa fazendo o pedido: “Tenho sêde”. Ou seja: eu necessito de água.
13. Em hebraico, garganta quer significar alma. Sêde: necessidade vital do ser humano. A água que vai ser dada a Jesus pela samaritana é efêmera. Mas a água anunciada por Jesus é plena, é de vida eterna.
14. Outro evento lembrado foi o de que Jesus não realizou milagre em Nazaré, por falta de adesão do povo. Temos, pois, o Messias dentro da teologia da necessidade.
15. Em grego, a palavra Senhor é kyrios e significava o título do imperador. Após haver ressuscitado, eram feitas referências a Jesus como sendo Senhor. Diferentemente do imperador, o senhorio de Jesus é o serviço e não a dominação. Dominar, obrigar, oprimir, nada disso combina com o senhorio de Jesus.
16. Lucas: “que vocês não sejam como as nações, que dominam os povos, escravizam os pobres e humildes”.
17. Jesus não se parece, em nada, com o imperador do Império.
18. O Prof. Paulo Ueti mencionou a parábola do bom pastor, dizendo que é mania nossa imaginar que o bom pastor corresponde ao padre e que as ovelhas perdidas somos nós. É bom ter em conta que nos aproximamos da família cristã pelo batismo. Na verdade, a nossa Igreja é a pastora do mundo. A Igreja se perdeu. Abandonamos o senhorio do império para assumir o senhorio do serviço de Jesus. Vamos em busca da ovelha para trazê-la de volta.
19. Quem é o Senhor da Vida da gente? Veja-se o caso da violência doméstica. É crime, mas não a tratamos como pecado. Não esquecer que Jesus é o senhorio e que nenhuma violência deve ser permitida.
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20. Foi indicada a leitura do capítulo 8 da carta de São Paulo aos Romanos, de modo a considerar sob qual espírito estou vivendo: pelo espírito de Deus? “Portanto, não existe mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. A Lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte.”
21. Jesus, aquele que ressuscitou, Ele é o caminho da minha vida! A disposição de entrega a Deus é muito boa e própria. Mas é preciso nos mobilizarmos.
22. Foi mencionado outro trecho relevante do Credo par avaliar: o problema da divindade e da humanidade de Jesus. Os dois Credos recusam a heresia que dividiu Jesus – pedaço homem e pedaço divino. A mesma postura em relação à heresia de que Jesus era Deus disfarçado, uma aparência de humano.
23. Ocorrreu no século III a difusão da heresia da negação da humanidade de Jesus. A propósito, por exemplo, do episódio dos discípulos de Emaús, fala-se de que Jesus fez que passou e não queria de fato passar, mas estaria apenas testando os discípulos. Jesus na verdade não procurou testar ninguém: quem testa é o demônio. Deus não faz teste com as pessoas.
24. Há, também, o tema da aprendizagem de Jesus: nega-se o desenvolvimento humano de Jesus. Lucas: “Jesus crescia em graça, em estatura e sabedoria, diante de Deus e dos homens”.
25. Se não fosse assim, Deus estaria em contraposição com a humanidade. Seria o mesmo que dizer que como gente não se chega a Deus. Alma separada do corpo.
26. Tecnicamente, deve-se falar em economia da salvação, querendo significar que não se trata de algo isolado. É um processo, representando várias situações. Exemplo: o Antigo Testamento é uma pré-história de Jesus. A sua vinda dá a plenitude e continua. Outra indicação: a anunciação do anjo a Maria. Ela deu o sim, mas poderia ter dado o não. Deus chamou e ela aceitou, embora não tenha sido uma decisão fácil e tranqüila. Maria não era uma figura passiva, tendo participado de um processo de diálogo. Deus não mandou ou determinou: apenas perguntou. 5
No curso da sua vida, Jesus foi crescendo e se desenvolvendo e,
a prestação, passo a passo, foi se reconhecendo filho de Deus.
27. A nossa tradição vai reconhecer na economia da fé a posição especial de Maria. Ela tem o seu lugar na economia da salvação.
28. Dois dogmas dos primeiros períodos do cristianismo:
a) Jesus, gerado não criado, consubstancial ao Pai: ele é da mesma natureza de Deus (está em plena comunhão com Ele). Deus é o salvador, Jesus é o redentor e o Espírito Santo é o santificador. Ou seja: comunhão na Trindade. São distintos, em plena comunhão. O dogma é: Jesus é plenamente da condição divina e é plenamente humano, encarnado;
b) outro dogma (Éfeso): Maria é mãe de Deus e mãe de Jesus. Ao mesmo tempo, ela é mãe de Deus e de Jesus.
29. A idéia de que Jesus é 100% Deus e 100% homem deve ser ruminada na nossa espiritualidade.
30. Batismo: quer dizer mergulho. Jesus fazia parte do grupo de João Batista, que era profeta. Jesus pertence ao grupo profético.
31. Batismo no Espírito Santo: é toda a vida de Jesus, até a morte de cruz. Juntou-se a divindade e a humanidade de Jesus. Marcos 1,8: “Eu vos batizei com água. Ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo”. Megulhar na vida, morte e ressurreição de Jesus.
Intervalo: 17h18 às 17h33
32. Foi feita a leitura do Credo niceno, com alguns comentários. Deus quer salvar toda a humanidade e não somente alguns privilegiados. A misericórdia de Deus é para todos, para toda a humanidade. A eleição de cada um é uma missão e não um privilégio. Com a missão, teremos mais serviço, maior compromisso. Na história dos talentos, vê-se que quem multiplicou o que recebeu vai ter mais. Nós assumimos o compromisso e vamos ser mais cobrados por isso: mais serviço, mais compromisso. 6
33. O desejo de Deus é salvar-nos. Toda a Bíblia, a Patrística e a tradição falam de que a salvação é um desejo de Deus.
34. Para nós, um critério básico é fazer a vontade do Pai. Tudo será dado por Deus como verdadeiro presente, de graça. Deus é graça e misericórdia! Aí está o sentido da gratuidade de Deus.
35. Concílio Vaticano II: a liturgia é a celebração do desejo de Deus que quer salvar toda a humanidade (v. Sacrossantum Concílio nº 5, sobre liturgia).
36. O desejo é primeiramente de Deus. Em seguida, o desejo é também meu, nosso. Não existe qualquer condicionamento da parte de Deus: é de graça!
37. O Prof. Paulo Ueti recomendou que se leia a Bíblia no contexto do Novo Testamento. Firmar em nós o entendimento de que não existem condicionamentos na teologia da salvação. Deus é graça pura! É fundamental ler a Bíblia (NT) como se fosse fruta nova; associar a isso a prática de comprar e ter à mão textos sérios de espiritualidade, com base em bibliografia recomendada.
Brasília, 28/3/2006

terça-feira, 21 de março de 2006

Estudo do “Credo Apostólico” 02

Estudo do “Credo Apostólico” 02

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Credo Apostólico”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
2º Encontro: 20/3/2006, 2ª feira (16h10 às 18h06)
O expositor, Prof. Paulo Ueti, mencionou que utilizaria inicialmente a Bíblia (Deuteronômio 6,4) e o Catecismo da Igreja Católica (pg. 70, nº 228):
Deuteronômio 6,4: “Ouve, ó Israel: Javé nosso Deus é o único Javé”;
Catecismo pg. 70, nº 228: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor...”
2. Foi entoado, suavemente, o canto:
Shmá Israel
Adonai Elohenu
Adonai ehad
Escuta Israel
O Senhor é nosso Deus
Um é o Senhor
3. Em seguida, houve menção ao primeiro artigo do credo apostólico: “Creio em Deus pai todo-poderoso, criador do céu e da terra.” Vê-se que o texto do credo niceno-constantinapolitano é semelhante, apenas sublinhando “creio em um só Deus” e acrescentando “de todas as coisas visíveis e invisíveis”.
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4. O credo niceno é uma explicitação melhor do credo apostólico, e os dois credos – o símbolo apostólico e o símbolo niceno – são aceitos por todas as igrejas cristãs. O Credo e o Pai Nosso são comuns às igrejas cristãs.
5. A primeira questão que se coloca para nós é que o Credo é também uma oração. Assumimos uma atitude orante no sentido de escutar o Senhor Nosso Deus. Atendemos à bem-aventurança: “Bendito o que escuta a minha palavra e a põe em prática”.
6. O termo felicidade, em hebraico e em grego, quer dizer marcha, marchar. Pessoas felizes: estão em marcha. Infelizes: pessoas congeladas. Ou seja, felicidade tem a ver com movimento. Por outro lado, as regras monásticas têm a ver com escutar e prática. Prática: seguimento do Credo, profissão de fé. Não se diz: “nós cremos” e sim “eu creio”. É pessoal, individual.
7. A afirmação “creio” é resultado desse espírito: Deus falou e eu me disponho a escutar. Maria também escutou. O resultado de escutar é a gravidez: quem escuta, engravida. Mas não basta engravidar: tem que deixar nascer, parir. Essa associação é fundamental, pois é preciso não cair na armadilha de imaginar que crer é apenas um estado psicológico. O resultado sempre é crer. E crer é fazer: Deus fala, eu escuto, ocorre uma gravidez e uma parição (ato de parir). É um verdadeiro efeito-dominó e tudo requer opção. Eu escuto e opto por parir ou não. O encontro de Deus depende também de mim, através da opção (o amor de Deus permanece, mas eu preciso optar e querer).
8. Vê-se, pois, o efeito-dominó da primeira afirmação de Credo (“Creio”). A morte do Messias estava prevista e Jesus assumiu isso de bom coração, assumiu a cruz. É bom ter em conta que uma coisa é o Jesus de Nazaré; outra coisa é o Jesus da Fé (pobre, humilde, reformador, revolucionário, que morreu na cruz).
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9. Observe-se que Jesus foi, a prestação, passo a passo, assumindo a vida, aprendendo. Como ser humano e bom judeu foi aprendendo a rever os seus conceitos sobre a religião. Ele teve que se dar conta de que o povo não era normalmente feliz.
10. Deus é tão Deus que se fez ser humano, vivendo o mistério da encarnação. Aceitou o limite humano sem perder a essência divina. Deus humilhou-se e virou gente. Ser gente não é ruim.
11. O credo apostólico foi difícil de sair como saiu. O problema sério foi justamente a humanidade de Jesus, envolvendo os primeiros séculos, o que foi objeto do Concílio de Trento e do Concílio Vaticano II. Anteriormente, foi considerado heresia o fato de não reconhecer a humanidade de Cristo. Está na Bíblia que Jesus não queria morrer. Precisamos crer nesse Deus humano e divino e não só naquele Deus distante, que está no céu.
12. Deus está no meio de nós. A nossa saudação habitual na missa é, mais do que isso, uma saudação litúrgica. Ele está realmente no meio de nós.
13. O que foi dito até aqui é o aspecto fundamental da primeira vertente (“Eu creio”). O Prof. Paulo Ueti referiu-se ao capítulo 10 de Lucas e, especificamente, à acolhida de Maria e Marta a Jesus e da saudação a Maria, “que escolheu a melhor parte”, escutando a palavra de Jesus. Foi também mencionado o capítulo 11 de Lucas, com a oração do Pai-Nosso, ensinada por Jesus. O centro do Pai-Nosso é “venha o teu Reino”, “seja feita a tua vontade”.
14. A mesma prática que Deus tem com você, cabe a você ter com o próximo, com a comunidade: bem-aventurança da misericórdia. Deus perdoou você primeiro.
15. O credo apostólico vem de que Deus acreditou em mim primeiro. Quanto mais eu creio, a minha crença junta-se com o credo do outro e daí nasce uma crença, o credo da Igreja.
Tem-se aí a crença pessoal e a crença eclesial (comunitária). Isso tudo se dá para que a comunidade seja melhor.
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16. O verbete do Credo diz: “Creio em Deus Pai”. Ou seja: eu não creio em qualquer Deus, mas naquele que é Pai. Em hebraico, pai quer dizer casa, morada. Abbá: paizinho. Duas vezes casa, morada. Deus (paizinho) não é uma casa qualquer, mas uma morada por excelência. Deus não precisa de exército, de imposto, de um séqüito: Ele é a figura da casa, da morada. O acesso a Ele é livre, público, cotidiano. Não há necessidade de pedir audiência.
17. Na espiritualidade e na fé, é preciso prestar atenção em que Deus eu acredito. O credo niceno diz: “Creio em um só Deus”, que é Pai. Ele é responsável por você, pelo seu provimento.
18. É bom que se tenha consciência da imagem bonita desse pai, desse paizinho: Deus não é homem, do sexo masculino (não confundir a nossa natureza com a natureza de Deus). Ele é mãe, Deus é misericórdia. Tem entranhas de mulher, útero materno. Foram lembrados trechos de Isaías (capítulo 49) e de Oséias:
“Ó céus, dai gritos de alegria, ó terra, regozija-te,
os montes, rompam em alegres cantos,
pois Javé consolou o seu povo,
ele se compadece dos seus aflitos.
Sião dizia: Javé me abandonou;
o Senhor se esqueceu de mim.
Por acaso uma mulher se esquecerá de sua criancinha de peito?
Não se compadecerá ela do filho do seu ventre?
Ainda que as mulheres se esquecessem
eu não me esqueceria de ti.”
“Até a ingratidão inflama o amor de Deus. O amor de nosso Deus.”
19. Deus cuida de nós. Ele escuta, pega no colo, amamenta. Deus que é esse tipo de pai e mãe (misericórdia). Deus não é macho ou fêmea.
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20. Muitas pessoas nas nossas igrejas têm medo de Deus. Precisamos aproximar Deus de nós, insistindo nessas imagens de Deus mais próximo, misericordioso, paizinho. Deus: o pai!
21. Foi lembrado o ano 586, em que o templo foi destruído. Deus vivia aprisionado no templo, que virou instrumento de separação de Deus de nós, numa autêntica segregação.
22. É preciso ver que o Espírito está em todos os lugares. O sacrário, a Igreja, a capela do Santíssimo, são todos locais especiais aos quais nos dedicamos especialmente (e não exclusivamente) a louvar a Deus. São lugares e ritos destinados especialmente a louvar a Deus.
23. Indagado sobre como deveriam se vistos os milagres, o Prof. Paulo Ueti afirmou que milagres são milagres. Teologia romana: experiência da hóstia consagrada (experiência especialíssima). Presença física e real? A eucaristia é presença real do Cristo, mas não presença física. O importante é ter por base que Deus, que se revela pelo Espírito Santo em Jesus, não é localizado mais num único e específico lugar. Com a encarnação e a ressurreição não é possível mais encontrar Deus num único local.
24. Para nós, cristãos, não é necessário ter Deus isolado num determinado lugar. Eu posso encontrar Deus em todos os lugares, especialmente na eucaristia.
25. São Paulo: eu não posso aprisionar Jesus. O jeito como ele está entre nós não é mais o mesmo depois da encarnação e da ressurreição.
Intervalo: 17h15 às 17h30
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26. Outras palavras do início do credo: “todo-poderoso”. Convém ter uma idéia precisa do que significa esse poder de Deus. A Bíblia sempre vai dizer, por exemplo, que os milagres são um sinal do amor de Deus por nós, por toda a humanidade. Os milagres e as atitudes de Jesus acarretaram problemas para ele, inclusive no sentido de que planejaram matá-lo. Isaías: “O Senhor é todo-poderoso em amor”. Ele é um “pastelão derretido” e essa é a contradição que Deus quis revelar para nós. O poder de Deus aparece pelo que me envolvo nesse espírito de amor de Deus: é preciso emergir, experimentar ânimo, desfazer as nuvens que nos impedem de amar.
27. Qual a imagem de Deus que temos em nossa cabeça?
28. Deus é Rei ?! A coroa de Jesus foi de espinhos. Súditos: Jesus não teve súditos ou servos. A sua missão foi a do sacrifício de cruz.
29. Precisamos retomar a leitura dos primeiros padres da Igreja. No século VIII esqueceu-se da Bíblia. É preciso recuperar a leitura da Patrística e da Bíblia.
30. A fé católica está baseada em três pilares:
a. Bíblia;
b. Patrística; tradição;
c. Magistério (da Igreja).
31. A base são os três pilares e não um só. A Patrística corresponde aos quatro primeiros séculos, com toda a contribuição dos padres do deserto e dos primeiros padres (Santo Antão, São Jerônimo, Evagrio Pôntico, São Crisóstomo e tantos outros). Foram lembrados também, entre outras referências do acervo da fé católica: Santa Hildegarda, Santa Catarina de Sena, Santo Inácio de Loyola, São Francisco, Santa Clara.
32. Temos que recompor a expressão “todo-poderoso” para poder entender o sacrifício da cruz. Quando eu entrego, eu recebo de novo; quando eu dou, eu recebo; é preciso desapegar-se. Isso é ser todo-poderoso.
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33. Paulo: Filipenses 2: “Ele, estando na forma de Deus não usou de seu direito de ser tratado como um deus mas se despojou, tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens e reconhecido em seu aspecto como um homem abaixou-se, tornando-se obediente até a morte, a morte sobre uma cruz”. Poder de Deus: é você não achar que pode tudo. Quando se tem vida, quando se é capaz de morrer pelo irmão.
34. Jesus não é mágico de plantão e nem está a meu serviço. Eu é que estou a serviço do Reino de Deus, que Jesus veio revelar.
35. Outros pontos do Credo: “criador do céu e da terra”, ou seja, de todas as coisas. Deus não é engenheiro. Ele é artista: sensível, aberto, apaixonado, amoroso. Ele é criador. Cria-se para as pessoas e o mundo serem melhores. Ele é também excêntrico, isto é, para fora, para os outros. Deus faz não para Ele. Deus faz para o mundo.
36. Muitas vezes, falta para nós os olhos da espiritualidade, olhos de contemplação. O espírito de Deus é vento, é língua de fogo. Quando inspira, tudo morre; quando expira, tudo volta a florir (primavera).
Salmo 104 (103):
... “Escondes tua face e eles se apavoram;
retiras sua respiração e eles expiram,
voltando ao seu pó.
Envias teu sopro e eles são criados,
e assim renovas a face da terra.” ...
37. Deus não é criador só do Céu. Ele é criador de tudo, do céu e da terra, “das coisas visíveis e invisíveis”, como incluído no símbolo niceno. É preciso, pois, ter o olhar da contemplação (voltar para a arte).
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38. A filosofia tem um método, tem uma lógica. Na música, a partitura tem uma teologia.
39. A misericórdia, para onde leva? Para a humilhação, para a humildade. Falta para nós o aprofundamento para entender que Deus não criou só algumas coisas: por exemplo, a natureza boa do ser humano. Deus é de fato o criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis. Deus cria tudo! Mesmo que depois a gente estrague o que foi criado, Deus estará ali para ajudar a consertar.
40. Finalizando o encontro, o Prof. Paulo Ueti explicou que o resultado da tentação é cada um fazer uma opção. A fé é o resultado de opções. Em qualquer delas, Deus estará ali para ajudar.
Brasília, 21/3/2006

segunda-feira, 13 de março de 2006

Estudo do “Credo Apostólico” 01

Estudo do “Credo Apostólico” 01

PARÓQUIA N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO
Curso: Estudo do “Credo Apostólico”
Expositor: Prof. Paulo Ueti
(5 encontros)
Notas Avulsas
1º Encontro: 13/3/2006, 2ª feira (16h07 às 18h05)
O Prof. Paulo Ueti iniciou o curso com a leitura e algumas
reflexões sobre o Salmo 130 (129), “De profundis”:
Salmo 130(129)
“Das profundezas clamo a ti, Javé:
Senhor, ouve o meu grito!
Que teus ouvidos estejam atentos
ao meu pedido por graça!
Se fazes conta das culpas, Javé,
Senhor, quem poderá se manter?
Mas contigo está o perdão,
para que sejas temido.
Eu espero, Javé, eu espero com toda a minha alma,
esperando tua palavra;
minha alma aguarda o Senhor
mais que os guardas pela aurora.
Mais que os guardas pela aurora
aguarde Israel a Javé,
pois com Javé está o amor,
e redenção em abundância:
ele resgatará Israel
de suas iniqüidades todas.”
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O Salmo lembra o Deus verdadeiro, que não é mágico,
poderoso no sentido humano, mas libertador e bondoso.O Salmo procura recuperar a imagem perdida de Deus, o Deus de Amor. É o salmo por excelência da quaresma: Salmo penitente, mas não de sofrimento e fortemente afirmativo. Mostra quem é Deus: é nele que está o perdão, o amor, a redenção em abundância. O sofrimento não é grande coisa , é só o sofrimento; cometer erros é só cometer erros; as nossas bobagens são apenas as nossas bobagens.
A conversa prevista no curso sobre o “Credo Apostólico”-
os dois credos, o credo símbolo dos apóstolos e o credo símbolo niceno-constantinopolitano – terá por base a pergunta essencial: “Quem é Deus?”
Há quem imagine que o sofrimento é obra de Deus, vem
de Deus. É preciso desfazer essa idéia equivocada e, pela nossa profissão de fé, por meio do Credo, identificar pelo menos quem não é Deus.
O Prof. Paulo Ueti relembrou o retiro de que participou
com jovens, em que um deles, indagado sobre quem é Deus, procurou explicar que Deus seria como um velhinho que tinha dois cachorros bravos e ameaçava soltá-los sobre as pessoas.O tempo da conversão seria aquele disponível até que um dos cachorros chegasse até nós. Para alguns, pois, Deus é distante, rancoroso, faz acepção de pessoas, acena com ameaças.
Quanto ao sofrimento, é bom ter em conta que ele faz parte
da vida, da humanidade: não existe o ser humano sem sofrimento. Além disso, para cada um de nós, Deus é o centro da nossa fé: Ele não nos faz sofrer. Muitas das nossas mazelas nada têm a ver com Deus. A pobreza existente no mundo, por exemplo, não vem de Deus: nós não sabemos repartir! Deus nos faz perceber que as escolhas que fazemos muitas vezes não estão de acordo com a vontade do Pai. Deus está entre nós, mas depende de nós saber percebê-lo.
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Uma questão essencial é saber se a graça de Deus muda a
minha vida, ou não. Foi relembrada a história do evangelho, envolvendo Maria e Marta: quando Jesus ia à casa delas, observa-se que Maria largava tudo o que fazia para ouvir Jesus e ficar com ele. A presença de Jesus não mudou, porém, a rotina de Marta, que continuava assoberbada com os afazeres domésticos e reclamava a falta de ajuda de Maria. Esta, ao contrário, escolheu a melhor parte: a presença de Jesus mudou a sua rotina.
A afirmação de fé tem a ver com isso: a presença de Jesus
em minha vida modifica a minha rotina? A minha profissão de fé muda minha vida?
A imagem de Deus, portanto, está em jogo. Quem é Deus?
Qual a imagem de Deus que tenho segundo a minha fé?
10. O nosso encontro com Deus deve ser marcante. É só lembrar a história do samaritano misericordioso e perceber que o amor de Deus é pleno e não impõe condições. Deus é amor primeiro. Eu amo porque Deus me ama. Eu tenho que experimentar o amor de Deus. A nossa religião, a religião católica, não é a religião do mérito individual. Deus nos ama primeiro. O critério de Deus é a sua necessidade. A graça de Deus é pública, amorosa e incondicional. Um bom exemplo é o do patrão que foi em busca de operários durante o dia, em horários diferentes, e, no final, realizou o pagamento da diária a partir do último contratado, atribuindo-lhe o mesmo valor que havia acertado com o primeiro.
11. É preciso estarmos atentos e não cair na armadilha de cumprir o rito da missa, sem atender à essência religiosa; cumprir a lei e esquecer a graça de Deus, que justifica o Credo. É preciso relativizar a norma, estabelecer prioridades. Rezar por rezar não resolve: urge viver a religião, cumprindo naturalmente as normas.
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12. As obras são conseqüência da fé. Os milagres dependem da fé. Cabe viver na fé a profissão do Credo.
13. Deus é todo-poderoso. Só que o poder de Deus não é o imaginado pelos discípulos. Deus é o Messias que vai morrer na cruz!
14. Não se trata simplesmente de cumprir o rito da fé. É preciso ter conteúdo na fé. É preciso aprofundar a nossa fé. Temos que conviver e encarar o mistério, mesmo sem definí-lo, sem saber explicá-lo. Mistério não segredo. É preciso mergulhar no mistério.
15. São Tomás de Aquino: a respeito de Deus, só podemos dizer o que Ele não é.
16. Nós podemos dizer uma palavra sobre Deus, mas não a palavra sobre Deus. Deus é amor, é misericórdia. Deus não é mentiroso, não é carrasco, não é sofrimento.
17. O Credo Apostólico é uma afirmação de fé, mas não pretende dizer quem é Deus. Crer é viver. Crer na Bíblia é fazer. Mudar de vida de acordo com Jesus. Procurar parecer com Jesus.
18. Com base no Credo, a pergunta é: a minha fé me fez parecer com Jesus e acreditar nele? É preciso, através do Credo Apostólico, me transformar e ficar parecido com Jesus. Eu leio a Bíblia para parecer com Jesus.
19. A revelação de Deus para nós cristãos, não está na Tradição, nem na Patrística, nem na Bíblia, mas sim na pessoa de Jesus Cristo – um ser humano que é para nós, cristãos, a revelação de Deus. As outras religiões monoteístas, como o Islamismo e o Judaísmo têm, como revelação de Deus, o Corão e a Torá.
20. O Credo nos ajuda a rever a nossa imagem do Deus da Bíblia.
O Credo nasceu no IV século. Até então, não havia o Credo, pois não havia necessidade, uma vez que tudo era tranqüilo e fora de dúvida. As transformações havidas levaram à necessidade de retomar a origem das coisas, considerando que os quatro primeiros séculos mudaram muito a Igreja, requerendo a necessidade do Credo.
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21. O texto de Jó é ilustrativo, na medida em que mostra que os seus amigos religiosos vão dizer que conhecem Deus e que Jó está sofrendo porque pecou. O mesmo que se vê quando uma moça é violentada e se diz que a culpa é dela, porque anda com pouca roupa, se expondo. Para os amigos de Jó, a razão é que Deus castiga os pecadores e a culpa é dele, pecador. Jó, destemidamente, nega tudo isso.
22. Deus é maior que a minha capacidade de compreendê-lo.
Intervalo: 17h15 às 17h32
23. Após o intervalo, o Prof. Paulo Ueti indicou a leitura e a reflexão sobre o texto da Epístola aos Filipenses, a partir do capítulo 2, versículo 5 e seguintes:
“Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus;
Ele, estando na forma de Deus,
não usou de seu direito de ser tratado como um deus,
mas se despojou, tomando a forma de escravo.
Tornando-se semelhante aos homens e
reconhecido em seu aspecto como um homem abaixou-se,
tornando-se obediente até a morte,
à morte sobre uma cruz.”
24. É requerido que se tenha o mesmo sentimento que havia em Jesus. Parecer com Jesus. Não esquecer quem é Jesus.
25. Jesus tinha a condição divina e não se vangloriou disso. Foi gente como nós, plenamente. Jesus esvaziou-se de si mesmo, desapegou-se, assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. Humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, a morte de cruz. Obediente significa diálogo, significa escutar (de dentro, do fundo do coração) e praticar a vontade de Deus.
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26. Temos medo da cruz. Escutar é ir para o sacrifício da cruz. Termina na cruz, mas não significa ficar na cruz.
27. Jesus foi para a cruz. Parecer com Ele é também seguir o caminho da cruz. Não vamos esquecer que o “kit Jesus” é completo: vida, sofrimento, morte, ressurreição. Tudo acaba na cruz, que vira ressurreição.
28. Jesus não pede o sofrimento, que é resultado do seu amor pela humanidade. Fazer o mundo melhor causa sofrimento. A cruz faz parte da nossa fé.
29. Cabe a cada um de nós perceber a graça de Deus misturada com o sofrimento da humanidade. Tudo está junto e misturado.
30. A vida tem que ter método. Aprende-se isso no cotidiano do exercício da vida. Praticar o sofrimento. A religião é um caminho.
Caminhar com Jesus. A cruz está no caminho.
31. O Credo é fundamental para entender que a felicidade e a tristeza podem conviver na mesma mesa. A rigor, percebe-se que elas são a mesa: vivem juntas, fazem parte da vida!
32. Onde é o lugar de Deus? Qualquer lugar. Deus está em todos os lugares.
33. Nos próximos encontros, serão vistos e detalhados os 3 artigos essenciais dos dois Credos, o Credo Apostólico e o Credo Niceno-Constantinapolitano.
Brasília, 14/3/2006